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"Escândalo da comida" abala governo Chávez
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FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
"O povo pode estar irritado [conosco]", admitiu na principal TV estatal venezuelana o poderoso presidente da PDVSA, a estatal petroleira, em referência ao chamado "escândalo da comida vencida" que acossa o governo Hugo Chávez desde maio. Uma filial da PDVSA para distribuição de alimentos, a PDVAL está no centro da crise desde o encontro, no fim de maio, de ao menos 70 mil toneladas de alimentos vencidos ou podres.
Anteontem à noite, Rafael Ramírez, que comanda a estatal petroleira e o Ministério de Energia e Petróleo, falou em comida "não adequada". Admitiu que o caso afeta a imagem da PDVSA, motor da economia venezuelana.
"A nós não interessa o reconhecimento da oligarquia, mas o reconhecimento do povo", disse. "Esse povo pode estar irritado com o que aconteceu na PDVAL."
O caso é especialmente delicado porque Chávez realiza uma cruzada contra os especuladores e a indústria privada de alimentos, tidos como culpados pela inflação que acumula 14,2% até maio. Ramírez, um dos colaboradores mais antigos do governo Chávez, afirmou ainda que ele e a empresa são vítimas de "um linchamento político" devido às eleições legislativas de setembro.
PERDA DE PODER
O ministro já sente o peso do escândalo. A PDVAL, responsável em 2009 por importar 405 mil toneladas de comida, passou a responder à Vice-Presidência da República na semana passada. Desde a criação, em 2008, a filial é criticada por desvirtuamento de funções. A própria empresa admite problemas pelas novas funções.
Além da PDVAL, há ainda a PDVSA agrícola e a Bariven, importadora de maquinário da indústria do petróleo que passou a importar comida --uma boa quantidade do Brasil e da Argentina. O escândalo envolve vários esquemas de corrupção e má gestão, segundo jornais e TVs antichavistas.
Os importadores estatais comprariam demais para faturar com aluguéis de depósitos nos portos e venda de dólares no mercado paralelo, mais caro que o oficial. A polêmica tende a crescer porque Chávez baixou decreto que proíbe ambulantes de vender comida. É comum ver pequenos mercados ao ar livre oferecendo produtos que faltam no supermercado.
Ramírez também enfrenta outra crise, no setor primordial de sua atuação: desde o fim de maio, uma mancha de petróleo cobre o lago Maracaibo, maior do país. O ministro admitiu ontem haver um vazamento diário de oito barris de petróleo, provocado, segundo ele, por "sabotadores". Ele afirmou, no entanto, que a mancha já está sob controle.
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