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19/01/2012 - 07h51

Fãs se mobilizam para fazer traduções amadoras de games

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CARLOS OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Bruno Gomes de Carvalho gostava tanto do jogo para computador "A Neighbour from Hell", de 2003, que quis apresentá-lo à sua irmã. Mas tinha um problema: o game é em inglês, idioma que ela não dominava. "Foi aí que tive a ideia de tentar editar os arquivos de texto e, por sorte, consegui", conta.

Bruno prosseguiu com a ideia e hoje, com 22 anos, é moderador de traduções em um portal especializado, reforçando um grupo apaixonado: o de jogadores que traduzem voluntariamente games para português brasileiro.

Zé Carlos Barretta/Folhapress
Jocimar Araujo, coordenador do site GameVicio e tradutor amador de jogos
Jocimar Araujo, coordenador do site GameVicio e tradutor amador de jogos

Assim como Bruno, João Paulo de Oliveira, 24, traduz games de forma voluntária, ressaltando "a prática de outros idiomas" como uma motivação -ele conta nunca ter feito curso de inglês ou espanhol. Quando surgem dúvidas de inglês, Oliveira recorre a dicionários on-line.

"Como é um trabalho voluntário, você faz nas horas livres", afirma.

Nenhum dos sete fãs brasileiros com quem a Folha conversou afirmou ganhar dinheiro com a iniciativa.

HISTÓRIA

A primeira tradução não oficial de um game conhecida foi lançada em 1993 para o japonês "SD Snatcher", de MSX 2, de 1990, vertido para inglês. Durante a década de 90, grupos internacionais começaram a passar para inglês jogos até então exclusivos do Japão, como "Final Fantasy 5", disponibilizando gratuitamente "patches" na rede.

Atualmente, o site Romhacking.net, um dos maiores portais especializados no assunto do mundo, contabiliza 945 "patches" em inglês para todos os sistemas.

Já o Portal Brasileiro de Romhacking e Emulação (romhackers.org), que centraliza grupos focados em traduzir games para português, indica o site Emurom, de 1998, como a primeira iniciativa em grupo no Brasil, que registra, atualmente, 67 equipes ativas e 119 inativas.

Com tantos grupos no país, não há números totais de projetos, mas é possível estimar ao menos 1.225 traduções.

O brgames.org, que disponibiliza "patches" de games para consoles de diversos sites, contabiliza 785, enquanto o portal do gamevicio.com, maior dos voltados para jogos de PC, tem 440, incluindo versões em português de Portugal.

A divisão entre games para console e para PC acontece porque as localizações para computador são aplicadas nos jogos já instalados -o que, a princípio, não envolveria baixar ou adquirir cópias ilegais.

"As traduções não são usadas como cópias ilegais de jogos. Quem usa pirataria faz cópia ilegal com ou sem tradução", afirma Jocimar Araujo, 43, do GameVício, que lucra com banners de publicidade.

Araujo conta que recebeu ameaças não identificadas quando encabeçou uma campanha para desestimular a venda de cópias ilegais de games com os "patches" do GameVício em sites particulares e de leilões.

Editoria de Arte/Folhapress

VOLUNTÁRIOS

Para fazerem as traduções, programadores de sites como GameVício e Tribo Gamer extraem o texto dos games, que é dividido em partes. Isso permite que administradores dividam tarefas entre equipes.

"A duração de um projeto depende da quantidade de tradutores envolvidos, bem como do gênero do jogo. O gênero mais desafiador é o RPG", diz Ednaldo Trajano, 30, administrador do Tribo Gamer.

A adaptação de "Grand Theft Auto 4" pelo GameVício contou com 180 pessoas. Já "NecroVision" e "Police Simulator" só tiveram um tradutor.

Com 16.675 linhas de texto, "Deus Ex: Human Revolution" levou três meses, conta João Paulo Rodrigues, também administrador do Tribo Gamer.

"The Elders Scrolls 5: Skyrim", em andamento, tem 67.432 linhas.

ILEGAL

O advogado Bruno Salvatore Drago, consultor de direitos autorais e software, diz que as traduções são ilegais.

Segundo Drago, a Lei do Direito Autoral determina que as traduções dependem de autorização do autor.

O advogado lembra que "ilegal significa que é contra a lei, não que seja crime". Para ser crime, depende do caso, como "a forma como a tradução é disponibilizada".

Marcos Lázaro Francisco Viégas, consultor jurídico do GameVício, argumenta que não há legislação específica.

Questionada, a Blizzard citou o contrato de licença e seus jogos, que proíbe a tradução parcial ou total.

Betrand Chaverot, diretor-geral da Ubisoft Brasil, diz entender "como bastante positiva a iniciativa de jogadores que se dispõem a legendar seus jogos preferidos".

*

GLOSSÁRIO

  • Emulador: software que imita o ambiente de um videogame para rodar seus jogos
  • MSX: tipo de computador criado no Japão, nos anos 1980. Jogos como "Bomberman" tiveram sua primeira versão nele
  • Patch: trecho de programação incluído a um software para modificá-lo
 

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