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Twitcam: pode cada computador ser uma emissora?
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ADRIANA BRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Desejos bizarros, egolatria e aberrações de todo tipo podem ser observados em todas as instâncias sociais ou históricas.
O ambiente social e comunicacional fornecido pela internet possibilita que uma infinidade de pessoas tenha acesso ao processo de produção das mídias, até então em poder de muito poucos.
O resultado é que, a partir de interesses diversos, indivíduos, grupos e corporações se apropriam e utilizam essas tecnologias de modo também diverso.
Jovens costumam ser pioneiros na exploração de novos territórios. No caso do manuseio tecnológico, esse segmento da população ganhou um lugar simbólico valorizado na medida em que dominam melhor as linguagens do computador em relação às gerações anteriores.
Ali, os/as jovens são os donos do pedaço, e sabem disso. Encorajados/as pelo reconhecimento social e pela própria habilidade técnica nesse domínio, experimentam a novidade com mais liberdade, fazem de cada nova ferramenta disponível um laboratório experimental.
A quantidade, aparentemente excessiva, de conteúdos produzidos com teor sexual ou banal por participantes do ambiente do Twitcam reflete, em primeiro lugar, uma relação histórica que as sociedades têm com a banalidade, com o grotesco.
As pessoas têm um fascínio enorme por esses conteúdos, desde a Idade Antiga, e acredito que desde sempre.
Outro fator que deve ser levado em conta é o próprio deslocamento da questão sexual testemunhada nas últimas décadas. Essa nova geração tem outra relação com o sexo, mais lúdica, banal e relativamente livre de tabus.
O sexo parece hoje mais descomprometido com um estatuto moral, e mais ligado à experiência e à trajetória de cada um, enquadrado em uma lógica individualista, na qual direitos e diferenças são assegurados.
Entretanto, mesmo que o tópico sexo chame muita atenção, como foco de preocupação inclusive, dando a impressão de ser preponderante nessa nova mídia, é possível observar usos diversos do Twitcam, mesmo nesse momento inicial.
Felipe Melo, por exemplo, apontado como culpado da desclassificação da seleção brasileira na Copa 2010, usou o Twitcam para fazer seu desabafo; artistas anônimos usam para fazer performances ao vivo, e com isso capitalizar audiência etc.
Ou seja, espaços como esses são locais privilegiados para a expressão individual, seja ela neurótica, sexual, criminosa, comercial ou humanista.
O fato é que algumas estruturas surgem e rapidamente desaparecem na internet enquanto outras se estabelecem solidamente, como no caso dos blogs.
As pessoas utilizam tais recursos de modo nem sempre confluente com os usos previstos por fabricantes e criadores/as.
A possibilidade tecnológica aberta pelo Twitcam é fantástica e revolucionária, na medida em que radicaliza a quebra de monopólio dos polos produtores centralizados, oferecendo recursos para que cada computador pessoal ligado à internet do planeta se transforme em um local de veiculação de manifestações expressivas, estéticas, políticas, identitárias, jornalísticas e publicitárias.
Entretanto, para além das possibilidades oferecidas, são os usos concretos dessa tecnologia - combinados com a legislação que está por vir - que darão sua feição futura.
ADRIANA BRAGA é psicóloga, doutora em Ciências da Comunicação. Professora do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e pesquisadora do CNPQ. Autora dos livros "Personas Materno-Eletrônicas: feminilidade e interação no blog Mothern" (Sulina, 2008) e "Comunicação Mediada por Computador, Identidades e Género" (Portugal, UBI, 2005), além de diversos artigos científicos.
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