Concentração de gases-estufa na atmosfera atinge recorde, diz ONU

Dados de 2017 mostram aumento de 41%, desde 1990, no efeito de aquecimento causado pelas emissões

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Genebra | AFP

Os gases que provocam o efeito estufa, uma das causas do aquecimento global, alcançaram níveis recorde de concentração na atmosfera em 2017, anunciou a ONU nesta quinta-feira (22), fazendo um apelo por uma ação para inverter essa tendência.

"Os dados científicos são inequívocos. Caso não sejam reduzidas rapidamente as emissões de gases do efeito estufa e, em particular, do CO2 [dióxido de carbono], as mudanças climáticas terão consequências irreversíveis e cada vez mais destrutivas para a vida na Terra", diz Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU.

Fumaça escura em fábrica da China, país com as maiores emissões
Fumaça em fábrica da China, país com as maiores emissões - AFP

"O período favorável para a ação está prestes a acabar", afirmou Taalas, a alguns dias da COP24 sobre o clima, que acontece em dezembro, em Katovice, na Polônia.

Nesse encontro, a comunidade internacional deve finalizar o Acordo de Paris para atingir o objetivo de limitar o aquecimento climático a menos de 2°C em relação ao nível da revolução industrial.

"A tendência é preocupante. Há uma diferença entre a ambição e a realidade", diz o professor Pavel Kabat, diretor do Departamento de Pesquisa na OMM, em entrevista coletiva.

"Não podemos ter pessoas com boa saúde, pessoas com acesso à comida, à água potável e a um ar saudável sem atacar as mudanças climáticas", diz a secretária-geral adjunta da OMM, Elena Manaenkova.

Em uma carta aberta enviada aos Estados nesta quinta, antes da COP24, a alta comissária da ONU dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu à comunidade internacional que "tome medidas eficazes, ambiciosas e urgentes" para conter a mudança climática. "Nações inteiras, ecossistemas, povos e modos de vida poderão simplesmente deixar de existir", afirma.

Segundo esta agência da ONU, as concentrações na atmosfera de CO2, CH4 (metano) e N2O (óxido nitroso), três gases causadores do efeito estufa, voltaram a aumentar no ano passado, estabelecendo novos recordes em escala global.

"E nada indica uma inversão desta tendência, que é, porém, o fator determinante da mudança climática, da elevação do nível do mar, da acidificação dos oceanos e de um aumento do número e da intensificação dos fenômenos meteorológicos extremos", afirma a OMM.

Os gases causadores do efeito estufa captam uma parte da radiação solar que atravessa a atmosfera, que, deste modo, se aquece. Este fenômeno aumentou 41% desde 1990. E o CO2 é de longe o principal responsável por esse aquecimento.

"O CO2 persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo no oceano. Não temos uma varinha mágica para fazer desaparecer o conjunto desse excedente de CO2 atmosférico", afirmou Manaenkova.

Sua concentração na atmosfera atingiu 405,5 partes por milhão (ppm) em 2017. No ano anterior, o valor era de 403.3 ppm e em 2015, de 400.1 ppm. "A última vez que a Terra conheceu um teor comparável em CO2 foi em 3 a 5 milhões de anos: a temperatura era de 2°C a 3°C mais elevada, e o nível do mar era superior entre 10 metros a 20 metros em relação ao nível atual", diz Taalas.

O metano, que aparece em segundo lugar entre os mais importantes e persistentes gases causadores do efeito estufa, também atingiu um novo pico em 2017, representando 257% do nível registrado na época pré-industrial.

Os especialistas também observaram, no ano passado, um recrudescimento "inesperado" de um poderoso gás do efeito estufa que prejudica a camada de ozônio, o CFC-11 (triclorofluorometano), cuja produção é regida por um acordo internacional.

As concentrações do gás causador do efeito estufa  na atmosfera dependem das quantidades emitidas, mas também de interações complexas que acontecem entre a atmosfera, a biosfera, a litosfera, a criosfera e os oceanos. O oceano absorve cerca de 25% das emissões totais, e a biosfera, outros 25%.

Nesta quarta (21), a ONG brasileira Observatório do Clima apresentou dados que mostram que as emissões brasileiras caíram cerca de 2,3% em 2017

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