Ibama concede licença para pavimentar rodovia na floresta amazônica

Estudo avaliou que projeto resultaria num aumento de cinco vezes do desmatamento até 2030

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Jake Spring Carolina Pulice
São Paulo | Reuters

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) concedeu nesta quinta-feira (28) uma licença inicial que permitirá que uma grande rodovia no centro da floresta amazônica seja pavimentada, disse o ministro da Infraestrutura, em uma medida que ameaça aumentar o desmatamento.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), em campanha, prometeu repavimentar a estrada, chamada BR-319, que ligaria a capital do Amazonas, Manaus, a Porto Velho (Rondônia) e ao resto do Brasil durante todo o ano.

A estrada foi originalmente construída pela ditadura militar do Brasil na década de 1970, mas rapidamente caiu em desuso nas duras condições da floresta tropical. Grande parte da rota é um trecho intransitável de lama durante a estação chuvosa de aproximadamente seis meses.

Trecho da BR-319 na região da cidade de Humaitá, no Amazonas - Ueslei Marcelino - 22.ago.19/Reuters

A pavimentação da estrada permitiria que madeireiros ilegais e grileiros acessassem mais facilmente áreas remotas e relativamente intocadas da floresta, disseram especialistas ambientais. Um estudo avaliou que o projeto resultaria num aumento de cinco vezes do desmatamento até 2030, o equivalente a uma área maior que o estado americano da Flórida.

O enfraquecimento das proteções ambientais por Bolsonaro já estimulou o desmatamento crescente, e as derrubadas na Amazônia brasileira atingiram um pico de 15 anos em 2021.

O ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, anunciou a licença no Twitter, postando uma imagem da licença do Ibama. A agência não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

"Num alinhamento de engenharia com respeito ao meio ambiente, vamos tirar a sociedade amazonense do isolamento", escreveu Sampaio.

Ele não respondeu imediatamente a uma pergunta sobre preocupações ambientais.

A licença inicial permitirá que o governo contrate empresas para pavimentar o maior trecho na metade da estrada, que está em piores condições. As empreiteiras vão elaborar projetos, mas precisarão de outra licença para iniciar a construção.

Essa primeira licença estipularia muitas condições que devem ser cumpridas nos projetos para iniciar a construção, disse Marco Aurélio Lessa Villela, ex-analista ambiental do Ibama.

"Deve haver uma lista enorme de coisas... que seriam necessárias para que uma estrada naquele lugar não seja uma tragédia", disse Villela.

Ainda assim, uma licença inicial significa que há uma boa chance de a estrada avançar, disse ele.
Bolsonaro comemorou a licença em seu discurso semanal na internet.

"Espero que em breve haja mais uma licença a caminho e nosso (Departamento de Transportes) possa começar a licitar e trabalhar para a pavimentação da BR-319", disse o presidente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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