Jovens rejeitam voto em Biden após apoio a projeto de petróleo no Alasca

Aprovação para perfuração em terras federais intocadas revolta ativistas que mobilizaram milhões de americanos em campanha virtual

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Lisa Friedman
The New York Times

Nas últimas três semanas, o governo do presidente Joe Biden propôs uma regulamentação para acelerar a transição para os veículos elétricos, comprometeu US$ 1 bilhão em ajuda aos países pobres para o combate às mudanças climáticas e preparou o que poderá ser o primeiro limite de emissões de gases do efeito estufa para as usinas de energia.

Mesmo assim, muitos jovens eleitores alarmados com a mudança climática continuam irritados com a decisão de Biden no mês passado de aprovar o projeto de perfuração de petróleo Willow, de US$ 8 bilhões, em terras federais intocadas no Alasca.

Enquanto o presidente anuncia sua candidatura à reeleição, não está claro se os eleitores que o ajudaram a vencer em 2020 por seu compromisso com a ação climática voltarão a comparecer.

Plataforma de petróleo vista de uma estrada; a paisagem está coberta de gelo
Local de perfuração da petroleira ConocoPhillips em North Slope, no Alasca - Erin Schaff - 22.mar.2023/The New York Times

Alex Haraus, 25, disse que ele e outros jovens se sentiram traídos pela decisão do projeto Willow, depois que Biden se prometeu como candidato que acabaria com novas perfurações de petróleo em terras públicas, "ponto final".

Haraus, cujos vídeos no TikTok em oposição ao Willow acumularam centenas de milhares de visualizações, descreveu sua reação como "brava, frustrada e decepcionada".

Cerca de uma dúzia de jovens ativistas climáticos entrevistados disseram que não foram aplacados pelos outros atos do governo Biden, mesmo que reduzam significativamente as emissões de gases do efeito estufa que estão aquecendo perigosamente o planeta, disse Haraus. O que eles querem, explicou, é que o presidente controle as empresas de petróleo e gás, que tiveram lucros recordes no ano passado.

"Não acho que nenhuma dessas coisas encoraje as pessoas a perdoar o governo Biden por projetos como o Willow", afirmou Haraus, que vive nos arredores de Chicago. "Os jovens eleitores veem nosso futuro sendo jogado pela janela. Precisamos que Biden enfrente a indústria, caso contrário, não há muito o que esperar."

Exploração de petróleo no Alasca
Projeto Willow vai ficar na Encosta Norte do Alasca, onde a petroleira ConocoPhillips já explora combustíveis fósseis; na imagem, posto de extração no campo Alpine - ConocoPhillips - 17.abr.2015/Divulgação

A esmagadora maioria dos eleitores jovens —cerca de 62%— apoia a eliminação total dos combustíveis fósseis, disse Alec Tyson, diretor associado do Centro de Pesquisas Pew.

Há amplo apoio entre os eleitores registrados de ambos os partidos para uma transição para um futuro em que os Estados Unidos não lancem mais emissões de carbono na atmosfera, disse Tyson. Mas a maioria não está disposta a romper totalmente com os combustíveis fósseis, afirmou.

Desde seus primeiros dias no cargo, Biden destacou a ação climática como prioridade. Logo após se mudar para a Casa Branca, ele voltou a colocar os EUA no Acordo de Paris e estabeleceu uma meta ambiciosa de reduzir as emissões do país em cerca de 50% abaixo dos níveis de 2005 até o final desta década.

Ele sancionou a Lei de Redução da Inflação (LRI), que fornece US$ 370 bilhões em incentivos para expandir as energias eólica, solar e outras energias limpas e veículos elétricos. Propôs regras para garantir que dois terços dos novos carros e um quarto dos novos caminhões pesados vendidos nos Estados Unidos até 2032 sejam totalmente elétricos.

Dentro de algumas semanas, deverá também exigir que as usinas de carvão e gás, responsáveis por 25% dos gases de efeito estufa do país, reduzam significativamente suas emissões.

No entanto, legisladores e ativistas disseram temer que as medidas regulatórias não cativem a imaginação dos eleitores e que o projeto Willow lance uma longa sombra.

"Ele dá um passo à frente com a LRI e dois passos atrás com o projeto Willow", disse o deputado democrata Jamaal Bowman, de Nova York, que, junto com mais de 30 outros legisladores progressistas, instou Biden a cancelar a licença de perfuração.

Em todo o país, 61% dos jovens de 18 a 29 anos votaram em Biden em 2020, enquanto 36% votaram em Donald Trump, de acordo com uma análise do Centro de Informação e Pesquisa sobre Aprendizado e Engajamento Cívico, um grupo apartidário sobre engajamento juvenil na Universidade Tufts. Isso é mais que o nível de apoio que Hillary Clinton recebeu de jovens eleitores em 2016.

Uma pesquisa de março do grupo de pesquisa liberal Data for Progress viu uma queda de 13% nos índices de aprovação de Biden quando se tratava de sua agenda climática entre os eleitores de 18 a 29 anos após a decisão de Willow.

Mas funcionários do governo disseram não ter visto nenhuma evidência de que o presidente tenha perdido terreno com os eleitores climáticos, ou mesmo com os eleitores jovens.

Eles apontaram pesquisas da YouGov e da Morning Consult, realizadas após a decisão de Willow, que mostraram que cerca de metade dos americanos a apoiaram. A pesquisa da Morning Consult descobriu que cerca de 30% dos jovens eleitores nem sequer ouviram falar do projeto Willow.

"O presidente Biden tem cumprido a agenda climática mais ambiciosa até hoje, com o apoio de grupos trabalhistas, pró-justiça ambiental e líderes climáticos, jovens defensores e muito mais", disse o porta-voz da Casa Branca Abdullah Hasan, em comunicado.

Durante anos, o projeto Willow permaneceu sob o radar do público, mesmo entre os ativistas ambientais. Quando as campanhas de rede social contra Willow galvanizaram milhões de ativistas, no início deste ano, foi uma surpresa para as autoridades, disseram várias pessoas envolvidas no movimento.

Mark Paul, economista político da Universidade Rutgers, disse que, embora o governo Biden tenha um forte plano para reduzir a demanda, ele precisa de políticas complementares que cortem a produção.

"Já temos combustíveis fósseis suficientes para atender às nossas necessidades durante a transição", disse ele. "O governo tem medo de usar o discurso agressivo contra o petróleo e o gás. É tentar jogar dos dois lados."

Michele Weindling, diretora eleitoral do Sunrise Movement, grupo ambientalista liderado por jovens, disse que os jovens querem ver Biden lutar.

"Este foi um momento cultural para minha geração", disse Weindling sobre Willow.

"Foi um grande momento para dizer 'não' à indústria de petróleo e gás", afirmou. "Foi um momento para o presidente Biden nos mostrar de que lado está. Ele escolheu o lado errado. Isso torna muito mais difícil nosso trabalho de dizer à geração Z e aos jovens eleitores que Biden cumprirá suas promessas climáticas."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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