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Kirchnerismo se perdeu de suas origens, diz Alberto Fernández na Argentina

Em 1ª entrevista após deixar a Casa Rosada, ex-presidente diz não falar com sua vice, Cristina, desde a posse de Milei, em dezembro

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Buenos Aires

A primeira entrevista de Alberto Fernández na Argentina após deixar a Presidência em dezembro e ser sucedido por Javier Milei exemplificou a crise no peronismo, força política histórica derrotada nas urnas pelo projeto ultraliberal do atual ocupante da Casa Rosada.

O então presidente Alberto Fernández durante entrevista à agência chinesa Xinhua em Buenos Aires
O então presidente Alberto Fernández durante entrevista à agência chinesa Xinhua em Buenos Aires - Martín Zabala - 13.out.23/Xinhua

Falando ao canal Cenital em conversa de duas horas transmitida neste domingo (5), ele criticou sua vice, a também ex-presidente Cristina Kirchner, com quem manteve frágil relação ao longo de seu mandato. Ele diz não falar com ela desde dezembro passado, na posse de Milei.

"O que está em discussão é o que é o kirchnerismo", disse Fernández, investigado por corrupção.

"Eu me reivindico como um dos fundadores do kirchnerismo; mas o kirchnerismo detestava a dívida pública e trabalhava pelo equilíbrio fiscal. De repente, passou a achar que não é tão mau o déficit."

Alberto Fernández foi muito próximo do ex-presidente Néstor Kirchner, que governou de 2003 a 2007 e morreu em 2010. Chegou a ser chefe de seu gabinete de ministros.

É de Néstor, marido de Cristina, que se originaram as ideias para o kirchnerismo, a corrente do peronismo que se coloca à esquerda. Com a morte dele, Cristina se tornou a principal figura dessa vertente.

Uma das principais diferenças entre a condução do país que defendia Fernández e a que apoiava Cristina durante seu governo estava na relação com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

A Argentina tem uma dívida de US$ 44 bilhões com o organismo, e Cristina era arredia à ideia de negociar com o fundo sobre o endividamento contraído pelo direitista Mauricio Macri, hoje aliado de Milei.

Fernández disse que há necessidade de renovação política nas fileiras no kirchnerismo ou de novas formas de fazer política. Citou exemplos de alianças incomuns na região que lograram vitória nas urnas, uma delas a de Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) no Brasil. "Seu vice-presidente é um nome de centro-direita, e eles convivem."

Sobre o Brasil, ele criticou a decisão de Javier Milei de não inserir a Argentina no Brics, grupo de países emergentes. "Milei rechaçou entrar nesse novo mundo", afirmou.

Fernández disse que "a pandemia abriu uma crise antissistema na Argentina e no mundo" e atribuiu aos efeitos da crise sanitária parte da força da direita em algumas nações. Também admitiu que errou ao fazer uma espécie de festa na residência oficial de Olivos durante a vigência das regras de isolamento social.

Além de Lula, mencionou Gustavo Petro, presidente da Colômbia, Andrés Manuel López Obrador, presidente do México que em breve deixa o cargo, Pedro Sánchez, premiê da Espanha, e o papa Francisco como lideranças com as quais dialoga sobre os desafios globais.

Na recente rixa entre Milei e um ministro espanhol que afirmou que o líder argentino usaria drogas, Fernández saiu em defesa de Madri, lembrando que há muitos espanhóis na Agrentina e que, portanto, um mal-estar com o país europeu não é boa ideia.

Ele relutou a falar sobre Javier Milei. Quando o fez, sob insistência do entrevistador e após ensaiar segundos de reflexão para a escolha dos termos, disse as seguintes palavras: "Acho que o presidente precisa ser um pouco mais reflexivo; ele é muito impulsivo".

Milei entra em uma semana de grande importância para seu governo, pois três comissões do Senado devem debater, a partir desta terça (7), a versão desidratada da Lei Ônibus, pacotão de medidas liberais aprovado na Câmara dos Deputados. A expectativa é votar o texto nesta semana na Casa. A coalizão de Milei, Liberdade Avança, tem apenas 7 senadores e negocia apoios.

Acusado de desvio de verba pública, Alberto Fernández teve os bens congelados por decisão da Justiça recentemente. Na entrevista transmitida neste domingo, ele negou todas as acusações.

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