Descrição de chapéu Planeta em Transe pantanal

Sob pressão de ruralistas, vereadores de Cáceres (MT) desistem de 'direitos da natureza' dados à cidade

Um mês após aprovação, município do Pantanal voltou atrás em legislação ambiental

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Porto Alegre

Duas sessões legislativas após aprovarem com discursos enfáticos em prol do ambiente um projeto que incluiria a "defesa dos direitos da natureza" na Lei Orgânica do município, os vereadores de Cáceres (MT), no Pantanal, resolveram voltar atrás na decisão.

Em entendimento oposto ao anterior, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara Municipal de Cáceres considerou o texto já aprovado inconstitucional, e um novo projeto de emenda à Lei Orgânica foi apresentado para revogar o entendimento anterior.

A mudança ocorreu durante o recesso legislativo, após o descontentamento de agropecuaristas com o texto da lei. Em alguns dos seus artigos, a emenda previa incumbências ao poder público que poderiam criar entraves ao setor, como "definir espaços territoriais a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão somente através de lei".

Sessão de 14 de agosto da Câmara de Vereadores de Cáceres (MT) voltou atrás em projeto que incluía "direitos da natureza" na lei orgânica do município.
Em sessão realizada em 14 de agosto, vereadores de Cáceres (MT) voltaram atrás em projeto que incluía 'direitos da natureza' na Lei Orgânica do município - Câmara Municipal de Cáceres/Divulgação

Em 17 de julho, a emenda havia sido aprovada por unanimidade, ocasião classificada no site da Câmara como "sessão histórica", com direito a quebra de protocolo da presidência para uma salva de palmas e foto das tribunas lotadas com entidades de defesa do ambiente. A emenda era de autoria de 10 dos 15 vereadores de Cáceres.

O presidente da sessão, vereador Luiz Landim (PV), discursou dizendo que "a natureza é como a lei de Deus: ela tarda, mas não falha".

Na sequência, o vereador Isaías Bezerra (Cidadania) declarou que "a natureza não tem boca como nós para reclamar, mas as nossas ações à natureza fazem ela chorar" e ressaltou a importância da sociedade "se envolver de uma forma geral" em sua defesa.

Duas sessões legislativas depois, em 14 de agosto, o clima era outro, com discursos breves e técnicos na tribuna.

O vereador Rubens Macedo (PTB) foi o único que citou publicamente a mudança de entendimento a partir de conversas com produtores rurais de Mato Grosso. Nas palavras do vereador, "depois que a gente [vereadores] refletiu, conversando com o pessoal, que a lei pode prejudicar o grande e o pequeno [produtor rural]", houve a mudança.

Outros vereadores citaram o parecer técnico da CCJ pela inconstitucionalidade e reclamaram que a lei tinha inspiração na legislação da Bolívia e do Equador, sem respaldo na legislação brasileira. A cerca de 218 km de Cuiabá, Cáceres tem 89,4 mil habitantes e faz fronteira com a Bolívia.

Um dos autores da emenda derrubada, o vereador Cézare Pastorello (PT) criticou a desistência. Para ele, a aprovação de dois pareceres antagônicos "coloca em descrédito as avaliações". "Ou é constitucional ou não constitucional", afirmou.

Pastorello ressaltou que houve duas audiências públicas para discutir o projeto, uma organizada pela própria CCJ.

Bezerra, que também era autor do projeto, rebateu dizendo que "se fosse assim, nenhum juiz voltaria nos processos e daria posição contrária ao que tinha dado anteriormente".

A emenda foi derrubada por voto de 13 dos 15 vereadores da cidade. Pastorello e Mazeh Silva (PT) foram os únicos contrários à decisão.

Seis dos 10 vereadores originalmente coautores da emenda assinaram também o segundo texto, de revogação, que foi encabeçado pelo vereador Flávio Negação (União Brasil).

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