Moldova, Sérvia e Azerbaijão entram em disputa por COP29

Propostas são tentativa de resolver disputa geopolítica que vem impedindo a definição de um anfitrião para evento em 2024

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Nailia Bagirova
Reuters

A Moldova se apresentou como candidata à presidência da cúpula climática da ONU (Organização das Nações Unidas) do próximo ano, a COP29, e a Sérvia está considerando a possibilidade de sediar o evento, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto e um documento visto pela agência de notícias Reuters.

As propostas dos dois países são uma tentativa de resolver uma disputa geopolítica que tem deixado a COP29 sem um anfitrião.

Ao mesmo tempo, a Armênia concordou, na quinta-feira (7), em não bloquear a candidatura do Azerbaijão para sediar a conferência climática do próximo ano, como parte de uma série de gestos mútuos de boa vontade destinados a promover a reconciliação entre os vizinhos distantes do Cáucaso Sul.

As discussões sobre quem substituirá os Emirados Árabes Unidos, que atualmente sediam a COP28, chegaram a um impasse sem precedentes. Isso porque os países da região do Leste Europeu que deve sediar a cúpula da ONU em 2024, incapazes de chegar a um acordo sobre um candidato.

Pessoas caminham em frente a sala circular e com faixas coloridas
Participantes caminham em frente ao pavilhão da Rússia na COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes - Thomas Mukoya/Reuters

De acordo com as diretrizes da ONU, o presidente de uma COP é alternado entre cinco regiões globais e cabe aos governos dessa região decidir unanimemente entre si quem assume o cargo.

Agora, a Moldova se ofereceu para chefiar as negociações, de acordo com uma carta do país para outras nações do Leste Europeu. O pequeno país, no entanto, não se ofereceu para receber o grande evento, disseram fontes à Reuters.

"Com a maior consideração pela importância da Conferência das Partes [COP] 29, o Ministério do Meio Ambiente da República da Moldova pretende apresentar formalmente uma candidatura para presidir esse evento de grande impacto", diz a carta.

A Sérvia estaria considerando se candidatar tanto para sediar quanto para presidir a COP29, mas ainda não havia feito uma proposta formal.

Ainda não se sabe se algum desses países conseguirá a aprovação regional.

Caso a Sérvia se ofereça como voluntária, espera-se que sua candidatura receba o apoio da Rússia e de sua aliada Belarus, segundo fontes diplomáticas. A Sérvia é um aliado tradicional da Rússia, mas, assim como a Moldova, solicitou sua adesão à União Europeia —que tem se posicionado contra os russos na Guerra da Ucrânia.

O Ministério do Meio Ambiente da Moldova e o gabinete do presidente da Sérvia não responderam aos pedidos de comentários.

Ao mesmo tempo, a questão de Armênia e Azerbaijão vai além da COP. A situação poderia apontar para uma maior confiança entre Yerevan e Baku, depois que o Azerbaijão, em setembro, tomou a região separatista de Nagorno-Karabakh dos armênios étnicos que a controlavam.

Um comunicado conjunto de ambas as administrações disse que o Azerbaijão irá liberar 32 membros do serviço armênio capturados e a Armênia irá libertar dois soldados azerbaijanos.

"Os dois países reafirmam sua intenção de normalizar as relações e alcançar um tratado de paz com base no respeito aos princípios de soberania e integridade territorial", disse.

Armênia e Azerbaijão estão em desacordo há mais de três décadas por causa de Nagorno-Karabakh, que se libertou do controle de Baku em um conflito étnico sangrento que acompanhou o colapso da União Soviética em 1991, sobrevivendo com apoio financeiro, militar e diplomático de Yerevan.

Quando as forças azerbaijanas lançaram sua ofensiva relâmpago, o que levou quase toda a população de Karabakh, cerca de 120 mil pessoas, a fugir para a Armênia, o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan resistiu à pressão interna para intervir.

Ele já havia reconhecido verbalmente o território como parte do Azerbaijão, de acordo com a prática internacional, mesmo quando as repetidas tentativas de negociações de paz, muitas vezes com apoio internacional, não levaram a lugar nenhum e os confrontos na fronteira eclodiram regularmente.

Enfrentando em setembro um oponente militarmente mais forte e com um aliado aparentemente indiferente na Rússia, ele disse que seu país precisava de paz mais do que qualquer coisa para garantir sua soberania e prosperidade.

"A República da Armênia e a República do Azerbaijão compartilham a visão de que há uma chance histórica de alcançar uma paz há muito esperada na região", dizia a declaração conjunta. "Um acordo foi alcançado para tomar medidas tangíveis para construir confiança entre os dois países."

Os vizinhos disseram que as discussões continuariam sobre a implementação de mais medidas de construção de confiança.

O presidente da COP desempenha um papel fundamental na orientação das negociações entre os quase 200 países presentes na cúpula da ONU e, geralmente, um país assume tanto a presidência quanto a organização do evento.

Se os países não conseguirem aprovar um presidente para a COP29, os Emirados Árabes poderão ter que manter a função por um segundo ano. Se os países não conseguirem escolher um novo anfitrião, a cúpula pode ocorrer em Bonn, na Alemanha, onde fica a sede da secretaria climática da ONU.

Já a COP30, em 2025, será realizada em Belém, no Brasil.

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