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Descrição de chapéu terremoto

Mapa mostra onde vivem 1,73 bilhão de pessoas sob ameaça de terremoto

Número foi obtido a partir do cruzamento de pontos em que há probabilidade de evento sísmico com dados populacionais

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São Paulo

Aproximadamente 1,73 bilhão de pessoas vivem em áreas que podem ser consideradas sob ameaça de terremoto no planeta.

É o que mostra um mapa elaborado pela Folha a partir de dados de probabilidade de eventos sísmicos em todo o mundo. Essa primeira camada de dados foi sobreposta a registros demográficos globais, permitindo estimar o número de habitantes vivendo em áreas sob ameaça.

O cruzamento considerou apenas as regiões do mundo que possuem uma probabilidade considerável de danos a grandes edificações. O número de 1,73 bilhão de habitantes foi estimado considerando-se esse critério.

A distribuição geográfica das áreas de maior risco coincide com as falhas entre as placas tectônicas. O fenômeno natural da movimentação dessas placas é a causa dos terremotos e tsunamis.

No mapa é possível observar áreas densamente povoadas que se encontram na faixa de maior ameaça sísmica. Caso do Haiti, que em 2010 registrou o terremoto mais letal dos últimos 100 anos, matando 316 mil pessoas.

Os dados georreferenciados usados no cruzamento foram extraídos do Mapa Global de Risco Sísmico, disponibilizado pela organização não governamental GEM (sigla em inglês para modelo global de terremotos), que reúne cientistas de diversos países e é custeada por fundos públicos e privados.

Os pesquisadores compilaram diversos modelos de ameaça sísmica regionais e nacionais. Essas análises estimam o perigo com base em registros anteriores de tremores de terra, onde ocorreram e com qual intensidade. O resultado é uma análise probabilística de ameaça de terremoto em todo o mundo.

Já a segunda camada de dados georreferenciados consiste em uma estimativa de densidade populacional baseada nos censos de cada país. O valor de cada pixel no mapa representa a população por km² nas localidades correspondentes. Essas informações são disponibilizadas pelo Center for International Earth Science Information Network, da Universidade Columbia, nos Estados Unidos.

Prédio atingido por terremoto é demolido na cidade de Hualien, em Taiwan - Reuters

Para realizar esse cruzamento e estimar o número de habitantes sob ameaça, foi necessário estabelecer, com a ajuda de especialistas em sismologia, um nível de ameaça sísmica que pode ser considerado significativo.

Entenda os níveis de ameaça sísmica

A PGA (sigla em inglês para aceleração de pico de solo) é estimada em comparação com a força gravitacional que a Terra exerce, representada pela letra "g". Por exemplo, um abalo que registre um PGA de 0,5 g indica que naquele local a vibração do solo foi correspondente à metade da força exercida pela gravidade da Terra.

Com base nessa unidade de medida, o Mapa Global de Risco Sísmico elaborado pelo GEM atribui uma escala de valores de PGA para cada região do globo.

Por exemplo, o mapa GEM indica que a região administrativa de Teerã, no Irã, se encontra na faixa entre 0,19 e 0,55 g. Isso significa que há 10% de chances de que nos próximos 50 anos a capital iraniana seja atingida por um sismo com PGA entre 0,19 e 0,55 vezes a gravidade da Terra.

Para chegar ao número de 1,73 bilhão de pessoas sob ameaça significativa de terremotos foram consideradas as áreas em que as grandes estruturas de construção civil podem ser mais vulneráveis, ou seja, aquelas com PGA acima de 0,25 g (25% da força de gravidade da Terra).

PGAs abaixo de 0,25 g, entretanto, já podem causar danos a edificações. Mas isso vai depender do tipo de construção e da maleabilidade do material usado nas estruturas: concreto, metal ou mesmo madeira, explica Diogo Coelho, sismólogo do Observatório Nacional. Segundo ele, um terremoto é perigoso apenas para estruturas rígidas que não conseguem dissipar a energia transmitida durante a passagem de uma onda sísmica gerada pelo tremor.

O mapa de modelo global de terremotos praticamente exclui as áreas habitadas do Brasil de um PGA igual ou superior a 0,25 g —o que, a princípio, tiraria o país do mapa das áreas de ameaça significativa.

Além disso, o país fica na porção central da placa Sul-Americana. Logo, está menos suscetível às agitações entre as placas do que países como o Chile. Na costa do oceano Pacífico, os terremotos são causados pelo movimento de subducção da placa de Nazca, que se move para baixo da placa Sul-Americana.

Isso, contudo, não elimina possíveis consequências de um movimento de solo, já que esse risco tem relação com outros fatores, como tipo de solo ou preparo das construções.

Ameaça X risco sísmico

Os sismólogos consultados são unânimes em alertar que o risco sísmico envolve uma análise complexa de fatores, que vai além da probabilidade de um tremor de terra em determinada região. Diferentes locais podem ter o mesmo nível de ameaça, mas com consequências diferentes, afirma o sismólogo Aderson Farias do Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

O sismólogo Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da USP, adverte sobre a necessidade da diferenciação entre ameaça sísmica e risco sísmico. A ameaça está relacionada com a probabilidade de tremor de terra, que pode ser visualizada na escala PGA.

Já na avaliação de risco outros fatores de vulnerabilidade devem ser levados em consideração. Por exemplo, as diferentes formações geológicas de cada localidade influenciam no modo como o tremor vai se dissipar. A qualidade das construções e o nível de preparo e treinamento das populações para reagir a um terremoto são outros fatores que podem aumentar ou reduzir o risco daquela população, afirma Collaço.

Taiwan pode ser um exemplo dessa mitigação de risco. Em 1999, um abalo de magnitude 7,6 matou quase 2.400 pessoas e fez o país rever suas regras de segurança de construções. Recentemente, o terremoto de 2 de abril deste ano, que atingiu a costa leste do país, deixou 18 mortos. Para especialistas, esse preparo contribuiu para reduzir o número de mortes no sismo mais recente.

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