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Descrição de chapéu The New York Times

Por que os macacos fazem gestos?

Nova teoria sugere que eles herdam o senso de que podem usá-los para se comunicar

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Carl Zimmer
The New York Times

Na década de 1960, Jane Goodall começou a passar semanas no Parque Nacional de Gombe Stream, na Tanzânia, observando chimpanzés. Uma de suas descobertas mais importantes foi que os macacos faziam gestos regularmente uns para os outros. Chimpanzés machos inclinavam a cabeça para cima como uma ameaça, por exemplo, enquanto as mães sinalizavam para seus filhotes subirem em suas costas para um passeio.

Gerações de primatologistas seguiram o trabalho de Goodall, descobrindo mais de 80 gestos significativos feitos não apenas por chimpanzés mas também por bonobos, gorilas e orangotangos.

Agora, os pesquisadores estão usando esses gestos para espiar as mentes dos macacos. Alguns até pensam que eles oferecem pistas sobre como nossa própria espécie evoluiu para uma linguagem completa. "Certamente, os gestos desempenharam um grande papel", diz o filósofo Richard Moore, da Universidade de Warwick.

Chimpanzés em Budongo, Uganda; um deles mostra as costas para outro como um pedido de cuidado; esses tipos de gestos destacam uma parte do corpo para o destinatário interagir - via NYT

Nos anos 1980, Michael Tomasello, então um jovem psicólogo comparativo, tornou-se pioneiro com a primeira teoria sobre gestos de macacos baseada em observações de filhotes de chimpanzés em cativeiro.

Ele notou que os filhotes faziam gestos para suas mães e, conforme amadureciam, desenvolviam novos gestos direcionados a outros chimpanzés.

Com base em suas observações, ele argumentou que os gestos se desenvolvem entre os macacos como hábitos simples. Se um filhote tenta repetidamente pegar comida da boca de sua mãe, por exemplo, a mãe pode começar a dar comida enquanto o filhote ainda está esticando o braço. O filhote, por sua vez, pode parar de se incomodar com a ação completa.

De acordo com a ideia de ritualização de Tomasello, os macacos não usam gestos para se comunicar da mesma forma que nós. Quando apontamos para um cannoli em uma confeitaria, sabemos que o gesto fará com que o padeiro entenda que é aquele que queremos comprar. Entretanto, de acordo com a teoria, um macaco não entra na mente de outros macacos quando faz um gesto. O animal simplesmente aprendeu que o gesto entregava o que queria.

No entanto, na década de 2010, alguns primatologistas viram sérios problemas com essa teoria. Ela previa que haveria muita variedade nos gestos que surgiam das interações individuais entre os macacos. Mas pesquisas em grande escala com chimpanzés mostraram que todos faziam os mesmos gestos. Alguns desses movimentos eram até compartilhados entre diferentes espécies.

Os críticos desenvolveram uma nova teoria rejeitando a ideia de que os macacos desenvolveram gestos espontaneamente. Em vez disso, propuseram que os gestos estavam codificados nos genes, assim como uma dança de acasalamento é codificada no DNA de um pássaro. Os gestos herdados que ajudaram os macacos a se reproduzir foram favorecidos pela seleção natural.

"Os gestos são inatos", diz o primatologista Richard Byrne, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, que ajudou a desenvolver essa teoria.

Porém, Kirsty Graham, ex-aluna de Byrne, também ficou insatisfeita com a teoria inata. "Estamos dizendo que faz mais sentido que 80 tipos de gestos sejam todos geneticamente codificados?", lembrou Graham, que agora leciona no Hunter College, em Nova York. "Isso é realmente a explicação mais simples?"

Graham descobriu que Moore compartilhava seu ceticismo, assim como o psicólogo comparativo Federico Rossano, da Universidade da Califórnia, em San Diego, que fez seu doutorado com Tomasello. O trio apresentou uma terceira teoria no mês passado na revista Biological Reviews. "É uma história que esperamos que concilie dados existentes e visões divergentes", afirma Moore.

Eles argumentam que os macacos não herdam gestos específicos, e sim o senso de que podem usar gestos para se comunicar com outros chimpanzés. Os animais criam novos gestos ao emprestar —ou "recrutar", na linguagem dos cientistas— movimentos que os macacos geralmente fazem.

A teoria explica algumas observações que não fariam sentido de outra forma, segundo Graham.

Primatólogos notaram, por exemplo, que, quando um macaco não consegue obter algo que deseja por meio de um gesto, ele pode se mover para que o outro macaco possa vê-lo mais claramente. Se o gesto fosse apenas um movimento aprendido e habitual, o animal não seria capaz de exibi-lo de forma tão flexível, diz Graham. "Eles estão sendo produzidos intencionalmente, de forma direcionada a um objetivo."

A visão de recrutamento oferece uma explicação de como os macacos podem compartilhar tantos gestos, mesmo que não sejam programados inatamente. Os macacos acabam fazendo os mesmos gestos porque têm corpos semelhantes que se movem de maneiras semelhantes. Como resultado, é fácil para eles interpretar o significado dos gestos simplesmente pensando no que fazem com seus próprios corpos.

Graham argumenta que a visão de recrutamento oferece novas ideias sobre por que os macacos têm dificuldade em reconhecer gestos que são fáceis para nós entender, como apontar com o dedo. Esses movimentos não têm uma conexão clara com o que os macacos fazem com seus corpos no dia a dia.

Isso não significa, porém, que os macacos não possam aprender novos gestos. Graham e seus colegas dizem que os animais podem fazê-lo desde que os gestos tenham um propósito. Os pesquisadores estão desenvolvendo experimentos para observar se isso pode acontecer.

Byrne considerou a visão do recrutamento, comparada com sua própria teoria inata, "um sistema bastante complicado". É claro que outros animais podem herdar suas exibições, porém ele questiona por que os macacos precisariam de uma explicação diferente.

"A questão, que levará muito tempo e muita discussão para ser resolvida, é se todo o aparato teórico extra vale a pena para uma melhor descrição da realidade", diz ele.

Mas Tomasello, que agora leciona na Universidade Duke, elogiou a visão de recrutamento como uma versão aprimorada de sua teoria de ritualização.

Quando ele desenvolveu suas ideias sobre gestos pela primeira vez, Tomasello diz que os cientistas ainda não apreciavam o quanto os macacos podem entender um ao outro. A visão de recrutamento, continua ele, "dá mais crédito aos macacos cognitivamente do que a visão original". "É um avanço importante."

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