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Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

O sultão perde uma (mas no futebol)

Derrota do Basaksehir, apoiado por Erdogan, para o Galatasaray simbolizou a política turca

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Bill Shankly (1913-1981), jogador e treinador escocês que fez fama no Liverpool, disse certa vez uma frase que qualquer fã do esporte deve repetir ao menos uma vez na vida: “Futebol não é uma questão de vida ou de morte; é mais importante do que isso".

A validez dessa frase acaba de ser revivida pelo presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, e também pelos seus adversários. Desta vez, ao contrário do que ocorre na política, na qual Erdogan ganha sempre, venceram seus críticos. Foi neste domingo (15), quando o time do Basaksehir perdeu (2 a 0) para o Galatasaray em partida que valia a liderança da Superliga, o campeonato turco. 

Seria um resultado normalíssimo, visto que o Galatasaray é um dos três grandes da Turquia, ao lado de Besiktas e Fenerbahce, enquanto o Basaksehir é uma criação recente enquanto equipe de primeira divisão.

Jogadores do Galatasaray comemoram o primeiro gol da vitória sobre o Basaksehir - Murad Sezer - 15.abr.2018/Reuters

O que politizou a partida foi o fato de que Erdogan, ele próprio um ex-jogador semi-profissional de futebol, estimulou seus amigos empresários a investir pesadamente nesse clube até então secundário.

Há quem suspeite que o verdadeiro dono do clube é o próprio presidente.

Do outro lado, estava o Galatasaray, o time preferido da elite e das classes médias seculares, que vêem Erdogan com grande desconfiança por suspeitarem que ele tem uma agenda oculta de islamização da Turquia. Contribui para a desconfiança o crescente autoritarismo do presidente.

É sintomático que, ao fim da partida, os torcedores do vencedor entoaram o coro “Somos soldados de Mustafa Kemal", alusão a Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna e ícone da laicidade.

O Galatasaray é também o time preferido de grande número de curdos, por ser a equipe do coração de Abdullah Ocalan, o líder do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), preso sob a acusação de terrorismo.

Dizem que as cores do time (amarelo e vermelho), quando se justapõem ao verde do gramado, evocam a bandeira do PKK.

Natural, portanto, nesse cenário, que Meral Aksener, possível candidata presidencial por um partido de extrema-direita, tenha tuítado: “Galatasaray 2, Recep Tayyip Erdogan 0”. O tuíte provocou 8.000 comentários, 42.000 retuítes e 117.000 “likes".

Não demorou a resposta dos simpatizantes do presidente: “Recep Tayyip Erdogan marcará o gol de verdade na eleição [presidencial] de 2019".

Comentário de Amberin Zaman, colunista do Pulso da Turquia do sítio Al Monitor: “Se a mesma constelação de grupos de oposição (a oposição pró-secular e os curdos) puderem juntar forças contra Erdogan nas eleições presidenciais, poderiam derrotá-lo no primeiro turno. Mas, por enquanto, essa possibilidade está distante".

Há, portanto, uma grande chance de que Erdogan se vingue nas urnas da derrota no gramado de seu Basaksehir. Até porque, para ele, o poder é, sim, uma questão de vida e de morte.

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