A ofensiva aérea dos EUA, França e Reino Unido contra a Síria, acusada de usar armas químicas contra sua própria população na noite da última sexta-feira (13), causou apreensão mundial pelo risco da expansão do conflito. A tensão persiste e a situação continua nebulosa.
A Rússia, aliada da Síria, reagiu dizendo que “haverá consequências”. Diante desse clima de beligerância e troca de farpas na diplomacia, como fica o esporte em geral, e, em especial, a Copa do Mundo na Rússia, que começa em 14 de junho? Há ameaça de boicote?
Até o momento nada foi ventilado nesse sentido, embora França e Reino Unido (seleção da Inglaterra) estejam entre as representações classificadas. Os EUA e a Síria, os outros envolvidos, fracassaram na disputa de vagas.
O conflito, no entanto, provoca uma visita automática à memória dos grandes eventos internacionais de esporte, principalmente a dois dos mais problemáticos, o boicote dos EUA e aliados aos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, e a retaliação da Rússia e aliados à Olimpíada de Los Angeles, quatro anos depois.
Naquela ocasião, os EUA, presididos por Jimmy Carter, desencadearam o movimento de boicote em protesto pela invasão do Afeganistão por tropas da então União Soviética, liderada por Leonid Brejnev.
Coincidentemente, Inglaterra e França estavam entre os países que apoiavam o movimento mas deixaram que suas federações esportivas escolhessem participar ou não, e ambos os países tiveram atletas competindo em Moscou. A represália, em Los Angeles, foi menos impactante, sem deixar de ofuscar o brilho dos Jogos.
Eventos internacionais de esportes deixam em evidência os países nos quais são organizados. A Rússia promoveu também a Olimpíada de Inverno-2014 e agora tem a Copa. França e EUA serão os palcos das Olimpíadas de 2024 e 2028, respectivamente, com Paris e Los Angeles. Antes acontece Tóquio-2020. Os EUA também estão envolvidos numa candidatura conjunta, com México e Canadá, para abrigar o Mundial de 2026. A escolha será na véspera início da Copa da Rússia.
O COI aglutina representações olímpicas de cerca de 30 esportes de 206 países; a Fifa, do futebol de 211 países. São organizações de grande porte, integradoras, que agem nas relações internacionais como elefantes entre cristais. Um exemplo recente foi a participação das Coreias na Olimpíada de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul. Deixaram desavenças para competir, inclusive desfilando e participando de atividades em parceria.
No mundo dos esportes, a Rússia, potência mundial no setor, tem enfrentado momentos terríveis por causa do uso de doping por atletas do país, e que revelou a participação estatal no escândalo. Na Olimpíada de Inverno, em fevereiro passado, com o Comitê Olímpico Russo suspenso pela patifaria de uso de drogas proibidas, os atletas do país tiveram de provar que estavam limpos de doping, competiram com uniforme neutro e na conquista de medalhas de ouro tiveram direito apenas a bandeira e hino olímpicos. Nada da Rússia.
Para os organizadores da Copa, os últimos acontecimentos tornaram mais complicada a montagem do esquema para garantir a segurança das 32 seleções participantes, da cartolagem, convidados e turistas.
A ONU, em resolução de 2014, reconheceu a autonomia do esporte (e dos comitês olímpicos em relação aos governos nacionais) e do COI como um meio de promover a educação, a saúde, o desenvolvimento e a paz. Um reforço da velha e batida tese de que esporte e política não se misturam.
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