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Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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Amamentação e mercado de trabalho: conta que não fecha

Índices de aleitamento materno evoluem, mas maioria ainda não consegue alimentar filho exclusivamente no peito por seis meses

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São Paulo

Todo mês de agosto, há uma campanha massiva em prol da amamentação, chamada de Agosto Dourado. A iniciativa tem como premissa estimular o aleitamento materno conforme as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde): amamentação exclusiva dos bebês no peito até os seis meses de vida e, depois, aleitamento até os dois anos, já com a introdução de outros alimentos.

Falar de Agosto Dourado sem falar de desigualdade é impossível. O tema é caro a mulheres. Muitas não conseguem amamentar e sentem culpa. Outras querem amamentar e não podem.

No mercado de trabalho, a conta não fecha. Afinal, alimentar um bebê ao seio por seis meses exigiria uma licença-maternidade mínima de 180 dias, realidade apenas em algumas empresas que fazem parte da Lei da Empresa Cidadão e de algumas categorias de trabalhadoras. Pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), a licença-maternidade é de até 120 dias.

Índice de aleitamento materno exclusivo até seis meses avança no Brasil, mas ainda não é o ideal - Katie Collins/empics/picture alliance via DW

Avançamos e muito sobre os índices de amamentação. E, mesmo com tanto avanço, a indústria da alimentação infantil tem levado a melhor. As mães que conseguem o marco inicial somam menos 50%. Por isso, precisamos seguir falando sobre o tema.

No final das décadas de 1980 e início de 1990, 3% das crianças eram amamentadas ao seio até os seis meses de vida. Em 2021, ano de publicação do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, o índice chegou a 45,8%.

A minha reflexão é sobre qual é a forma de falar de amamentação sem cansar ou sem levar mulheres a se sentirem culpadas? Como ajudar as mães que não conseguem amamentar? Como tratar da necessidade de uma licença-maternidade maior do que a que temos, sem prejudicar ainda mais as mulheres no mercado de trabalho ante os homens? Como acolher as diferentes realidades das mulheres periféricas, especialmente pretas e pardas?

Fala-se em rede de apoio, acesso à informação, mitos e verdades e há campanhas massivas sobre a importância do aleitamento, mas há muitas mães que simplesmente não veem a amamentação fluir e presenciam o bebê ganhando pouco ou perdendo peso, levando-as a usar a fórmula láctea para garantir a sobrevivência da criança.

Há ainda as mulheres que, nas periferias de grandes cidades, não conseguem seguir com a amamentação por seis meses pois, quando voltam ao trabalho, a rotina quase que as impossibilita de tirar o leite, armazenar e, depois, oferecer ao filho.

A maioria não tem dinheiro para comprar as bombas de aleitamento mais modernas e eficazes, que facilitariam essa extração. E há as empreendedoras que, poucas semanas após ter um filho, precisam seguir com o trabalho e não conseguem amamentar.

A troca de informações, para mim, ainda tem sido o melhor caminho. Insistir no assunto, reforçar campanhas, acolher mães e ouvi-las tem mostrado resultados.

Nesta última semana, um bate-papo com mulheres de diversas gerações promovido pela empresa de medicamentos Weleda e pela loja de móveis Muskinha levou-me aos meus dias difíceis, cansativos e prazerosos de amamentação de minhas duas filhas, hoje com 12 e 17 anos.

Ouvir diversas histórias e atualizar-me sobre protocolos, pesquisas científicas e tantas dores, alegrias e caminhos me renovou. Agosto termina, mas o tema tem espaço por aqui sempre que necessário.

Minha vez de amamentar passou, agora, sigo no papel de auxiliar outras mulheres. Não sou doula, nem consultora, muito menos pediatra, sou jornalista, mãe de Luiza e Laura, madrinha da Alice, e entusiasta do futuro possível.

Se evoluímos até aqui, chegaremos ainda mais longe, abraçando e acolhendo mães e bebês.

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