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Médico infectologista, é professor titular do departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP e pesquisador na mesma universidade.

Descrição de chapéu Coronavírus

Coronavírus falando grego

Letras do alfabeto grego procuram facilitar a discussão sobre as variantes

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Esse parecia ser um vírus que não toleraria mudanças, mas o tempo e a persistência da pandemia têm permitido um novo cenário. O novo coronavírus foi apresentando modificações e passamos a conhecer suas novas variantes. E por que o Sars-CoV-2 preserva essas mutações?

A principal suspeita é a de que elas trazem alguma vantagem ao vírus, principalmente no aumento da capacidade de transmissão. Mas será que estão associadas às formas mais graves da doença, interferem na capacidade dos testes, escapam ao tratamento e, parcial ou totalmente, às vacinas?

Variações do coronavírus são relativamente comuns, porém poucas mantêm a capacidade de transmissão. Quando isso acontece e um grupo limitado de pessoas se infecta, ela é denominada "variante de interesse". Caso seja transmitida para um grande número de pessoas e responsabilizada por grande parcela dos infectados em determinada região, ela é denominada "variante de preocupação".

Pedestres passam por anúncio sobre variante do coronavírus em Londres - Justin Tallis - 1.jun.21/AFP

No início de junho, um painel de especialistas, reunidos pela Organização Mundial da Saúde, trouxe uma novidade para lidar com o novo coronavírus: sugeriu a adoção de uma nova nomenclatura, a fim de facilitar a classificação das variantes virais.

A partir de agora, saem as siglas e números e entra o alfabeto grego, de acordo com a ordem em que houve a descoberta.

As variantes de preocupação entraram primeiro na fila. A B.1.1.7, isolada na Inglaterra, foi chamada de alfa. Por sua vez, a B.1.351, isolada na África do Sul, virou beta. A P.1, que apareceu primeiramente em Manaus e se espalhou pelo Brasil, agora se chama gama. Por fim, a B.1.617.2, recentemente identificada na Índia e que se espalha atualmente na Inglaterra e nos EUA, agora é conhecida por delta.

Sejam quais forem seus nomes, o que mais preocupa é que tais variantes tornem-se capazes de driblar as defesas do sistema imune, bem como os tratamentos e as vacinas. Até o presente momento, não há indícios de que consigam vencer as vacinas disponíveis.

Uma primeira informação importante, sobre a vacina da Johnson&Johnson: avaliação da sua eficácia em locais de transmissão da variante beta (B.1.351) observou redução parcial na proteção contra o surgimento de sintomas da Covid-19. Por outro lado, uma ótima proteção contra formas mais graves da doença, que levam à internação ou à morte, foi mantida.

A segunda veio do estudo S, realizado em Serrana, no interior de São Paulo. Nele, a Coronavac, da Sinovac e do Instituto Butantan, mostrou-se extremamente efetiva. Preveniu 86% das hospitalizações e 95% das mortes causadas pela Covid-19. A variante predominante no período da análise foi a gama (P.1). A Coronavac, portanto, é eficaz contra a variante de Manaus e principal responsável pelas recentes ondas de transmissão no Brasil.

A terceira evidência diz respeito ao temor de que a variante delta (B.1.617.2), recentemente identificada na Índia, tenha maior capacidade de escapar do sistema de defesa. Resultados preliminares na Inglaterra, onde essa variante está se espalhando, mostram que a grande maioria dos casos está ocorrendo em pessoas não vacinadas, com a efetividade das vacinas calculada em 95%.

Variantes podem causar doença mais grave? Ainda não sabemos de todos os detalhes, o que exige acompanhar as características da Covid-19 onde elas estão aparecendo.

Os tratamentos que hoje funcionam darão certo para o que vem pela frente? Para que estejamos preparados para o futuro, essa é uma questão estratégica que exigirá máxima atenção, também do Brasil.

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