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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Existe uma imunidade oculta?

É algo que vale investigar, pois a ciência aprende com erros, mesmo quando os cientistas não os admitem

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Há pesquisadores com currículos respeitáveis que ousam desafiar a ortodoxia científica. Um deles é Sunetra Gupta, professora de epidemiologia teórica da Universidade Oxford.

Talvez para contrastar com o modelo do Imperial College, que pintava cenários sombrios para o mundo (que estão se confirmando em muitos casos), Gupta e seu grupo apresentaram em março um estudo rival que apontava um quadro bem mais róseo. No modelo da professora oxfordiana, a letalidade real da Covid-19 seria da ordem de 0,1%, ou menor —pelas estimativas mais ortodoxas fica entre 0,5% e 1%.

A diferença se explica porque Gupta acredita que o vírus é muito mais prevalente do que se imagina. Em seus cálculos, em março, cerca de 50% da população britânica já teria tido contato com ele. Era uma hipótese exuberante, mas não impossível.

De lá para cá, saíram os resultados de inúmeros inquéritos sorológicos, que apontam proporções bem mais modestas de portadores de anticorpos. Elas ficariam quase sempre abaixo dos 10% da população, chegando a 20% só em lugares duramente atingidos, como Nova York. Seria uma excelente oportunidade para Gupta se corrigir.

A pesquisadora, porém, insiste em seus cálculos iniciais. Critica a qualidade dos testes e diz que há uma espécie de imunidade oculta, que seria resultado de características genéticas e da exposição a outros coronaviridae e por isso não aparece nos exames que buscam por anticorpos específicos.

Penso que devemos desconfiar das posições desses dissidentes, mas sem nunca deixar de ouvi-los. Mesmo que estejam errados no atacado, como Gupta parece estar, não é impossível que estejam em melhor posição do que outros para enxergar coisas que o consenso negligencia. Há uma imunidade epidemiologicamente relevante que não conseguimos detectar? É algo que vale investigar. A ciência aprende com erros, mesmo quando os cientistas não os admitem.

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