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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

O que o torcedor não quer ver

A paixão pelo time obnubila o cérebro; só vencer é importante, seja como for

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O Botafogo amargou 21 anos de jejum de títulos até conquistar o Campeonato Carioca em 1989.

Então os botafoguenses, com razão, reclamavam até do poder do Bangu, comandado pelo bicheiro Castor de Andrade. Era concorrência desleal.

Daí surgiu o também bicheiro Emil Pinheiro, eleito presidente do Botafogo, e a taça acabou conquistada, gol solitário de Maurício, contra o Flamengo.

Maurício é para o botafoguense o que Basílio é para o corintiano. Com justiça.

Matheus Martins comemora um de seus gols em Botafogo 4 x 1 Flamengo - Reuters

Da direita à esquerda, Emil Pinheiro até hoje é reverenciado pela torcida do Glorioso. Tremenda contradição para quem diz defender que os fins não justificam os meios.

O santo de plantão do alvinegro carioca é o ator de negócios estadunidense John Textor, um trumpista exacerbado, espécie de Eike Batista norte-americano.

Uma série de reportagens de Lúcio de Castro, repórter com larga e competente carreira no jornalismo, publicada no portal ICL Notícias, revela os métodos pouco ortodoxos do dono da SAF do Botafogo, que envolvem oligarcas russos e incrível habilidade para se safar de confusões na Justiça.

John Textor depõe no Senado sobre apostas esportivas - AFP

A exemplo do que se deu no Corinthians, em 2005, com a MSI do russo Boris Berezovski, desvendar os negócios de Textor virou pecado mortal, para, pasme!, jornalistas. Botafoguenses, por supuesto.

Lembremos: depois que rompeu com Vladimir Putin, Berezovski apareceu morto num hotel londrino.

Respeitado e elogiado como sempre é, Lúcio de Castro, que mantém a duras penas o site Sportlight, virou saco de pancadas por parte de quem, entusiasmado com a boa campanha do Botafogo, está cego diante de episódio já vivido pelo Corinthians, campeão com a MSI, pelo Vasco de Eurico Miranda, pelo Cruzeiro, por tantos.

Ao torcedor fanatizado só a vitória interessa, como aos religiosos ensandecidos ou aos extremistas nas duas pontas da política.

Anos de estrada no duro ofício de iluminar os fatos permitem ver e viver situações que a rara leitora e o raro leitor não imaginam.

Como a do jornalista corintiano que denunciou a máfia russa não poder mais ir aos jogos de seu time porque era agredido em coro.

Ou, mais recentemente, ser tratado nas redes antissociais como anticorintiano porque denunciou a empresa laranja nas negociações do Corinthians com a patrocinadora de jogatina.

Mais exemplar é observar os apelos para que se fale das mazelas do empresário Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, dos juros extorsivos da Crefisa, enfim, dos pecados dos concorrentes.

Como se não falássemos, os que fazemos jornalismo, não clubismo.

A explicação é simples: o fanático só acusa a dor quando seu calo aperta. No dos outros é refresco.

Muitas vezes, sequer lê as denúncias sobre os rivais, porque não dizem respeito ao clube do coração, e repete à exaustão bobagens do tipo "nunca vi criticarem o patrocinador de A ou de B", sem nem sequer admitir que nunca viu porque jamais se interessou pelo assunto.

O que Lúcio de Castro revela lembra o que se noticiou sobre a passagem da MSI pelo Parque São Jorge, sobre São Januário e sobre a cartolagem que tomou a Toca da Raposa de assalto.

O resultado posterior é mais que conhecido: o Corinthians foi rebaixado em 2007, o Vasco caiu quatro vezes e o Cruzeiro amargou três anos de Série B.

Como alguém já disse, o pior cego é o que não quer ver. Aliás, não é cego. É burro!

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