Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

O futebol anda muito estranho

Tem torcedor que torce para seu time perder e se poupar do rebaixamento

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O Fluminense acabou eliminado da Copa do Brasil, pelo Juventude, mesmo jogando a partida de volta no Maracanã e houve torcedor tricolor, se não feliz, ao menos aliviado, porque assim o time pode se concentrar em não ser rebaixado no Campeonato Brasileiro.

Agora o time perdeu o jogo de ida da Libertadores, para o Grêmio, e tem torcedor desejando um empate no Maracanã para se despedir com dignidade da busca do bicampeonato continental, em nome de permanecer na Série A do Brasileirão.

Lance de Grêmio 2 x 1 Fluminense, em Porto Alegre - Albari Rosa - 13.ago.24/AFP

Faz sentido?

Há torcedores racionais?

Em nome do mais importante, sacrifica-se o secundário?

Sabe o Fidelino, aquele pobre corintiano que mora em Itaquera e nunca pode ir aos jogos do time dele porque não tem grana para tanto?

Ele se pegou torcendo contra o Corinthians, em Ribeirão Preto, no primeiro jogo contra o Bragantino, pela Copa Sul-Americana.

A ponderação dele faz sentido: "Olha, eu já fiquei desconfiado quando nós eliminamos o Grêmio na Copa do Brasil. Eles também estavam lutando para sair da zona do rebaixamento. Bastou se livrar da Copa e já estão fora do risco de cair. Então pelo menos devemos abrir mão de uma das copas e entre elas a menor, a segunda divisão da América do Sul. Ou o senhor acha que dá pro Timão lutar em três frentes e não cair pela segunda vez para Série B?", perguntou.

"Mas, Fidelino, torcer contra o próprio time deve ser muito esquisito, difícil, triste mesmo", a coluna reagiu.

Lance de Red Bull Bragantino 1 x 2 Corinthians, no estádio Santa Cruz, em Ribeirão Preto - Nelson Almeida - 13.ago.24/AFP

"Pois bote esquisito, difícil e triste. Nunca tinha feito nada nem parecido. Mas a culpa não é minha, é desse tal de calendário que faz o pessoal jogar sem parar. Só quem tem dois times pode suportar e, o senhor vai concordar comigo, nosso Corinthians nem um tem em que se possa confiar. 2007, moço, nunca mais!", despediu-se com o desabafo.

A coluna teve vontade de perguntar "nosso de quem, cara-pálida?", mas achou excessivamente cínico.

É mesmo uma situação curiosa, talvez inédita, típica do futebol dos dias de hoje.

O temor da queda no principal campeonato do país leva muita gente a abrir mão de outras competições, até da Libertadores, em tese, mais importante.

Em tese!

Porque pense se tem algum sentido o seu time ser campeão do continente num ano e estar na segunda divisão nacional no outro.

Pergunte ao palmeirense se ele não trocaria a conquista da Copa do Brasil de 2012 pela permanência na Série A em 2013, quando pela segunda e, tudo indica, última vez, disputou a Série B.

Em 1999, também o Juventude foi campeão da Copa do Brasil e rebaixado no Campeonato Brasileiro. E o torcedor em Caxias do Sul provavelmente acha que tudo bem, porque ter a Copa do Brasil é histórico para clube de seu porte e ser campeão do torneio maior é quase utópico.

Para o torcedor alviverde paulista, alvinegro, tricolor carioca ou gaúcho, não!

Todos conhecem a humilhação e mais de uma vez, com exceção do corintiano.

Que não quer se chamado de "bidabê", nem muito menos cair três vezes, como aconteceu com os dois tricolores —ou até para Série C, no caso do carioca.

Fidelino tem parte da razão ao citar o calendário.

Mas a maior responsabilidade no caso do time dele ("nosso de quem, cara-pálida?") é da atual situação que tomou o Corinthians de assalto achando que ficaria impune como se fosse no União Barbarense ou Água Santa.

A polícia de São Paulo já sabe de quase tudo.

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