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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Só a vacina poderá dizer o futuro dos casais formados durante a pandemia

Imunizante proporcionará o momento de descobrir se ele, ou ela, finge que dorme no metrô para não ceder o lugar

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Perde-se muito tempo discorrendo sobre as reações adversas de vacinas contra a Covid 19, quando sabemos que seus benefícios são indiscutíveis. Porém, pouco se fala de um seleto grupo um pouco mais vulnerável aos efeitos a longo prazo da imunização: os casais pandêmicos.

Todo mundo conhece um casal que se conheceu durante a pandemia. Histórias vividas literalmente a dois, entre quatro paredes, sem qualquer interferência de terceiros. Uma comédia romântica a que ninguém assistiu, sobre solidões que se atracam enquanto o mundo lá fora se despedaça como uma paçoca esquecida no fundo da bolsa.

Publicada em 28 de junho de 2021 - Silvis

Pombinhos pandêmicos que sobreviveram todo esse tempo à base de migalhas: feitos um para o outro porque ambos gostam de pão sueco e têm crises de ansiedade no domingo à noite.

Duas pessoas que não precisaram apresentar seu novo amor aos amigos, à família, aos colegas de trabalho. Que não sabem se o outro bufa no teatro, ou faz barulho excessivo com um saco de jujubas no cinema. Que nunca viram a forma como o outro trata o garçom.

É quando a tão aguardada vacina chega com a promessa de furar essa bolha.

Hora de descobrir se ele, ou ela, finge que está dormindo no metrô para não ceder o lugar. Se assiste a um show filmando tudo com o celular, ou com a mão abraçada à sua cintura feito o carona de uma moto a 200km/h. Se bebe até ser expulso de uma festa porque tentou morder a bunda do segurança. Ou se decide sair à francesa justo quando está tocando sua música preferida.

Se é daqueles, ou daquelas, que têm a brilhante ideia de abrir o relacionamento uma semana antes do Carnaval. Se reclama que o mar da Bahia é morno demais. Se vai engolir um palavrão quando a peste do seu sobrinho afundar-lhe um bico no meio da canela.

Veja bem, ninguém aqui está dizendo que uma tragédia em escala global vai deixar saudades. Mas, por esse único e específico aspecto, as decisões do casal pandêmico eram muito mais simples. O que vamos jantar? Ao que vamos assistir? Quem vai limpar o vômito do gato?

A partir de agora, terão de planejar fins de semana, viagens, e um futuro até então em suspenso, empoeirado no fundo do armário junto com as roupas de festa.

Só o futuro será capaz de dizer se permanecerão juntos, na saúde e na doença —não necessariamente nessa ordem— quando enfim, acompanhados.

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