Siga a folha

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Pelo direito de ser medíocre

Sonho com o dia em que a autoestima masculina seja vendida em cápsulas

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Hoje estou determinada a escrever uma coluna medíocre. Mal cheguei à segunda linha e já sinto que serei bem-sucedida. Freud dizia que nós, mulheres, sentimos inveja do pênis. Mas não vou utilizar este espaço para refutar o pai da psicanálise, pois isso iria de encontro ao meu objetivo de produzir o conteúdo mais rasteiro possível.

Se algo particular ao gênero masculino me causa inveja, é o direito de ser medíocre. Sonho com o dia em que a autoestima masculina seja vendida em cápsulas. Certamente seria um remédio controlado, receitado apenas para casos como o meu: uma mulher exausta de ter de dar o seu melhor o tempo inteiro e, mesmo assim, nunca sentir que é o suficiente. O que me falta definitivamente não é um pênis, e sim a confiança de um homem branco medíocre.

Longe de mim querer reforçar estereótipos de gênero. Este texto pretende ser medíocre, mas nem tanto. Só estou constatando algo que observo todos os dias, especialmente na esfera profissional. Em uma série de comédia na qual trabalhei, por exemplo, um dos meus colegas enviou seu roteiro com bastante antecedência ao prazo, o que já me causou estranhamento. Mesmo quando termino um roteiro antes da data de entrega, uso todo o tempo que me foi concedido para revisá-lo e aprimorá-lo. Mas o pior ainda estava por vir.

Ilustração publicada em 19 de julho de 2022 - Silvis

O roteirista encerrava o email com o arquivo anexo dizendo: "Divirtam-se com a leitura". Além de medíocre, permitam-me ser um pouco chata. O roteiro ainda não havia sido lido, nem aprovado pela chefe da equipe. Mas já chegou na caixa de entrada em um clima de já ganhou que eu seria incapaz de reproduzir nesta encarnação.

O plot twist é que o roteiro estava péssimo e precisou ser reescrito de cabo a rabo pela chefe, uma mulher que jamais admitiria entregar um trabalho porco daqueles para o canal --com todo respeito aos porcos, que são mamíferos muito inteligentes.

Não seria o primeiro, nem o último caso que testemunhei de um homem orgulhoso da própria merda.

Tenho um primo que tirava onda em reuniões de família dizendo que uma vez fez um cocô tão grande que precisou ser cortado com uma faca. Uma imagem perfeita para encerrar este texto em clima de já ganhou. Divirtam-se com a leitura.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas