Siga a folha

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Descrição de chapéu Eleições 2018

O recado dos democratas

Chapa Lula-Alckmin abriu as portas para uma aliança muito além da esquerda

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

O convite ao ex-governador Geraldo Alckmin para ser vice de Lula foi uma estratégia eleitoral bem-sucedida. Abriu as portas para uma aliança muito além da esquerda. Se não se pode medi-la em ganho de votos, tampouco se pode subestimar a importância de ter o petista trazido para seu lado antigos e recentes adversários, como Fernando Henrique e Simone Tebet; críticos das políticas econômicas de Dilma Rousseff, como os criadores do Plano Real; sem falar da ex-ministra Marina Silva, que saiu do PT por divergir da política ambiental e foi massacrada pela propaganda do partido na campanha de 2014.

A aproximação entre o petista e o antigo tucano-raiz não visou apenas convencer eleitores recalcitrantes. Conta mais o seu valor simbólico. Diante de um candidato à reeleição que apostou no extremismo, fomentando o descrédito nas instituições democráticas, o consórcio Lula-Alckmin provou que democratas com ideias para lá de distintas sobre políticas de governo — e que, já se agrediram reciprocamente — podem passar por cima de diferenças e ressentimentos idos para defender a ordem constitucional ameaçada.

O presidente eleito Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin após vencer a eleição, em São Paulo - Nelson Almeida - 30.out.22/AFP

Parte dos cientistas políticos especializados no estudo de crises institucionais afirma que a radicalização de posições, que anda de mãos dadas com polarização eleitoral, é sempre cálculo de lideranças que apelam — e nessa medida intensificam — opiniões e sentimentos radicados nas sociedades.

Embora assustadoras, as mobilizações bolsonaristas contra a derrota que as urnas infligiram ao "mito" em 30 de outubro, não são inéditas. Líderes investindo na confrontação de há muito fizeram parte da paisagem política nacional. Em 1954, as vociferantes rajadas do radical de direita Carlos Lacerda contra o presidente trabalhista e ex-ditador Getúlio Vargas, escavou a crise institucional que culminaria com o seu suicídio. Uma década depois, um golpe militar foi o desfecho do confronto que opunha a pregação da esquerda nacionalista por reformas de base "na lei ou na marra" à da direita que marchou "Com Deus, pela família e a liberdade".

O anúncio feito pelo presidente eleito, na terça-feira (8), dos nomes do grupo de transição de governo espelha a amplitude da sua aliança eleitoral, bem como o seu compromisso de refleti-la outra vez na escalação de seu time — em suma, o recado de uma campanha vitoriosa. Mostra também que os democratas sabem que negociar e transigir são a essência de um regime pluralista. O triunfo sobre a radicalização instigada pelo chefe da extrema direita é indício de que uma coalizão politicamente ampla poderá fazer um governo decente e capaz.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas