Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Decisões políticas de Lula atrapalham Rio Grande do Sul, Petrobras e Banco Central

Em poucos dias, se vê como escolhas de governo mexem na economia e no socorro do RS

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Em uma semana, decisões e preferências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mexeram com a medula da finança do país, com a empresa brasileira mais importante e criaram ruído no mínimo inconveniente no até agora razoável conjunto de ações federais para atenuar a desgraça no Rio Grande do Sul. Em vez de dizer que são "decisões políticas", como se houvesse decisões ideais dos anjos tecnocráticos, são decisões e preferências que vão do contraproducente ao ruim.

Na semana passada, a direção do Banco Central decidiu por cinco votos a quatro diminuir o ritmo de corte da Selic de 0,5 ponto para 0,25 ponto percentual. Em termos materiais, a diferença é quase esotérica. Os diretores nomeados por Lula preferiam corte maior, mas os lados divergentes tinham argumentos razoáveis para justificar a decisão.

O presidente Lula, acompanhado do governador do RS, Eduardo Leite, e de vários ministros de estado, participou de cerimônia de anúncio de medidas de ajuda ao estado do Rio Grande do Sul na Unisinos, onde funciona um abrigo para pessoas atingidas pelas enchentes em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre
O presidente Lula, acompanhado do governador do RS, Eduardo Leite, e de vários ministros de estado, participou de cerimônia de anúncio de medidas de ajuda ao estado do Rio Grande do Sul na Unisinos, onde funciona um abrigo para pessoas atingidas pelas enchentes em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre - Pedro Ladeira/Folhapress

Como previsto, tal juízo não fez diferença na praça do mercado, que passou a cobrar mais para emprestar no atacadão de dinheiro e para manter seus haveres em reais.

O motivo óbvio dessa atitude é o fato de que Lula, o governo quase inteiro e o PT acreditam e alardeiam que Roberto Campos Neto, presidente do BC, conspira para afundar a economia luliana. Por esse raciocínio, assim que os nomeados de Lula forem maioria no BC, a partir de janeiro, o complô mercadista estaria derrotado. Não importa a inflação, a Selic baixaria.

É no que acredita pelo menos a maioria dos donos do dinheiro e de seus administradores e porta-vozes. Ironicamente, acreditam no que governo e petismo pregam. Por prevenção, cobram mais. As condições financeiras pioram. A Selic ainda baixa, mas taxas de juros de prazo maior do que um ano não param de subir.

Até agora, não há motivo para acreditar que os nomeados de Lula para o BC serão paus mandados ou doidivanas. Se, em maioria, no início de 2025 por abril, talharem a Selic sem boas justificativas, estarão mortos. Dólar e juros de longo prazo subirão ainda mais, a economia de Lula descerá ao brejo. O alarde lulista-petista não funciona.

Jean Paul Prates foi demitido da Petrobras com humilhação. A ideia é que sua cabeça, espetada em uma estaca diante da empresa, sirva de alerta para recalcitrantes. Isto é, para quem não acelere investimentos em refinarias, navios nacionais, fertilizantes ou no que mais Lula deseje. Lula 3 pode até querer fazer tudo isso, mas com dinheiro do Orçamento federal, que poderia ser engordado por uma Petrobras eficiente.

Mas Lula quer fazer da empresa (como com Itaipu) um Orçamento paralelo, a seu arbítrio. Ao burlar o objetivo específico de uma intervenção do Estado (a petroleira estatal), cria ineficiências, degrada o financiamento da empresa e a percepção do risco de investir no país. Em tese, normas atuais dificultam a malversação administrativa. Mas já vimos de tudo na Petrobras.

É sensato criar uma coordenação para administrar o apoio federal à reconstrução gaúcha, um ministério provisório. Valer-se de tal autoridade para incentivar candidaturas petistas é criar barulho político inconveniente, além de dar pano para a manga da política de mentiras e de propaganda anti-Estado (e governo) da extrema direita, do bolsonarismo. Mas isso nem é o mais importante.

O socorro ao Rio Grande do Sul é uma oportunidade para a criação de um embrião de autoridade climática. Ou, pelo menos, de criar instituição de prevenções e reconstruções orientadas por planejamento ambiental, condição para que sejam liberados dinheiros para trabalhos de adaptação econômica, geográfica, tecnológica de regiões destruídas ou sujeitas às destruições da mudança climática.

É uma oportunidade de fazer política grande, transformadora, duradoura. Ajuda a poupar vida, bens; é bom para o país, para o governo. Cadê?

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