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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

São Paulo é a única capital global onde ninguém quer ser candidato

Cidade que rejeitou Doria em 2018 tem sido desdenhada pelos progressistas

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Os chefes de Estado populistas se comportam, geralmente, como prefeitos de cidades dos seus respectivos países.

Trump rasgou o acordo de Paris sob o pretexto de que fora eleito para defender os interesses dos moradores de Pittsburgh.

Salvini chegou às portas do poder na Itália desempenhando o papel de um guarda de trânsito romano em um filme de Fellini, tratando os grandes debates nacionais como se fossem incidentes de cruzamento de ruas.

Avenida Paulista, em São Paulo - Gabriel Cabral - 18.nov.18/Folhapress

Depois de anunciar o escandaloso fechamento do Parlamento às vésperas do brexit, Boris Johnson surgiu numa ruela comercial de uma cidade do Yorkshire tentando fazer o pós-venda. Uma viagem desperdiçada.

Num momento rapidamente viralizado nas redes sociais, um residente pediu educadamente para o neo-premiê sumir da sua cidade.

À tentativa de municipalizar os desafios nacionais pela direita populista, os progressistas responderam com a nacionalização dos desafios municipais.

A primária do partido democrata para a presidencial americana conta com um número inabitual de atores locais.

Beto O’Rourke, Julián Castro, Bill de Blasio reivindicam a sua experiência municipal, quando, num passado recente, um presidenciável sem passagem pelo Senado ou pelo governo estadual passava por um aventureiro.

Maior surpresa da campanha até agora, o jovem Pete Buttigieg, do Partido Democrata, chega ao cúmulo de se apresentar como “Pete, o Prefeito”.

Pelo seu valor simbólico, a conquista de uma capital ou de uma grande cidade pode sabotar, ou reforçar, a narrativa do mandato de um presidente.

A derrota recente dos homens fortes da Rússia e da Turquia nos seus respectivos bastiões —Moscou e Istambul— relançou, depois de anos de apatia, questionamentos sobre a real sustentabilidade dos seus regimes.

Na França, a batalha pela prefeitura de Paris será decisiva para a continuidade do projeto centrista de Emmanuel Macron.

Dois dos seus potenciais sucessores disputarão o cargo com ecologistas e socialistas. O partido que levar a capital terá o poder de organizar a provável aliança contra Le Pen nas presidenciais em 2022.

São Paulo é a única capital global onde ninguém quer ser candidato. Principal alvo da extrema direita, a cidade que rejeitou Doria no pleito de 2018 tem sido desdenhada pelos progressistas.

 

Por enquanto, o projeto da oposição se limita ao embrutecimento burocrático prometido pelas possíveis candidaturas de Márcio França e Jilmar Tatto.

Lideranças confirmadas ou emergentes como Fernando Haddad, Tabata Amaral e Sâmia Bomfim se colocaram a confortável distância do debate.

Melhor ilustração do marasmo, Bruno Covas, um prefeito com trajetória para promover a tão necessária aliança contra o bolsonarismo, dá sinais de que não pretende ir além da indignação estéril sobre a corrupção no PSDB e dos gestos de simpatia à esquerda que, no seu entender, se resume a um punhado de tatuados e vegetarianos da Consolação.

Verdadeiro moedor de destinos, São Paulo tem tudo para intimidar os políticos.

Mas a ausência de um projeto credível para a cidade confirmaria as piores impressões sobre a frente de oposição ao bolsonarismo, única salvação para a democracia em 2022.

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