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Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

E se os brasileiros processassem os psicopatas genocidas?

Cumplicidade covarde e oportunista de um único homem impede que a justiça seja feita no Brasil

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Mãe processará Bolsonaro por dano moral após filho ser internado com Covid” foi o título da matéria do UOL, de 30 de junho de 2021, sobre o drama vivido pela advogada Maíra Recchia, 40.

“Meu filho tem 13 anos e nunca teve nenhum problema de saúde, nenhuma doença grave, nada. Não estava saindo de casa durante a quarentena, as aulas eram todas online. Mesmo assim, contraiu Covid-19. Apesar de ser muito jovem, a doença evoluiu rápido e ele chegou a ter 50% do pulmão comprometido. Só não morreu porque teve acesso a um bom hospital, ficou internado no Albert Einstein, aqui em São Paulo. Caso contrário, não sei o que seria. É extremamente doloroso saber que ele estava sendo bem tratado e imaginar que a maioria das mães não tem nem a chance de lutar. Me colocava no lugar das mulheres que não conseguiam nem um primeiro atendimento para suas crianças, que não encontravam vaga em hospital. Isso é desumano. Se eu, com toda condição de conseguir um bom tratamento para ele, estava nessa situação, como fica quem não tem essa possibilidade? Vou entrar com ação por dano moral contra Bolsonaro.”

No hospital, o filho disse que queria voltar para casa em Itapira, interior de São Paulo, pois “não queria morrer longe de todo mundo”. “Eu tentava animá-lo, brincava, cantava músicas, fazia alguma palhaçada. Depois, ia para o banheiro chorar. Foram os piores dias da minha vida.”

Maíra descobriu que já existe um grupo de vítimas da Covid-19 e famílias que perderam alguém para a doença exigindo a responsabilização do presidente. Ela vai entrar com uma ação por dano moral e material, pedindo a responsabilização do governo por omissões praticadas durante a pandemia: deficiência no atendimento das pessoas, falta de informação, ausência de vacinação e de contenção da propagação da Covid. “Ter um presidente que estimula o contágio, que é irresponsável com a saúde das pessoas, que recusou compra de vacina, que promoveu campanhas falsas sobre ‘kit covid’, é cruel. E me revolta ver cenas como a que ele tirou a máscara de uma criança. É um desrespeito com todas as mães.”

No mesmo dia em que li a matéria sobre a mãe que irá processar o presidente, foi protocolado na Câmara dos Deputados o superpedido de impeachment, que unifica os argumentos dos 123 pedidos já apresentados. Com o acréscimo de um novo crime: prevaricação no caso de corrupção no contrato de compra da vacina indiana Covaxin.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que não há condição política e materialidade para um processo de impeachment do presidente.

Se os psicopatas genocidas não tivessem estimulado o contágio, sabotado as recomendações da ciência e boicotado o uso de máscaras, milhares de mortes e de doenças teriam sido evitadas. Se as vacinas tivessem sido compradas quando a Pfizer ofereceu insistentemente com o propósito de tornar o Brasil “uma vitrine da imunização na América Latina”, já estaríamos sendo vacinados desde dezembro de 2020. Em vez de “um modelo de sucesso na vacinação”, os brasileiros se tornaram párias mundiais, leprosos rejeitados e estigmatizados no mundo todo.

E se os milhões de brasileiros que perderam um ente querido e estão cuidando de parentes e amigos com sequelas da doença tivessem a coragem de processar o presidente e seus comparsas criminosos
por danos morais e materiais?

A cumplicidade covarde e oportunista de um único homem tem impedido que a justiça seja feita no Brasil.
Mas o amor e a coragem de uma única mãe pode mudar o curso da história trágica deste país.

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