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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

Imprevisibilidade é o único patrimônio do futebol brasileiro atual

Não dá para apostar que os troféus vão se concentrar nos pés de apenas três clubes

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Faz cinco temporadas que só Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras vencem o Brasileirão. Desde o Corinthians de Fábio Carille não há outro campeão, o que reforça a ideia de que os troféus vão se concentrar nos pés de apenas três clubes.

Não é bem assim.

Sete anos atrás, era possível dizer o mesmo de Corinthians, Fluminense e Cruzeiro. Do título tricolor com Conca, em 2010, ao de Renato Augusto e Tite, em 2015, seis edições tiveram apenas três vencedores.

Dário Conca comemora gol na Libertadores de 2011 - Vanderlei Almeida - 28.abr.11/AFP
Últimos campeões brasileiros de futebol - Reprodução

Foi quando começou a se falar em espanholização do futebol do Brasil. Não pelas repetições de Cruzeiro e Fluminense. Muito mais pelo crescimento financeiro de Corinthians e Flamengo.

A NBA se espanholizou antes do Brasileiro.

Entre 2015 e 2018, quatro finais consecutivas do melhor basquete do planeta tiveram Cleveland x Golden State, Le Bron contra Stephen Curry. Foi a única vez com quatro decisões repetidas em qualquer esporte nos Estados Unidos.

Kevin Durant (35), do Golden State Warriors, e LeBron James (23), do Cleveland Cavaliers, no segundo jogo das finais de 2018 - Ezra Shaw - 4.jun.18/Getty Images/AFP

A Espanha não tem três anos com três campeões diferentes desde 2002, com Deportivo La Coruña, Real Madrid e Valencia levantando o troféu. Se o Barcelona confirmar o título deste ano, voltará a haver alternância após 21 anos: Atlético de Madrid (2021), Real Madrid (2022), Barcelona (2023).

O único patrimônio do futebol brasileiro atual é a imprevisibilidade. Todo mundo pode julgar que ou Atlético-MG ou Flamengo ou Palmeiras vai ganhar o torneio, que se inicia neste sábado. Ninguém é capaz de descartar o Fluminense, de Fernando Diniz, assim como no ano passado não se esperava o Internacional vice-campeão, com o rubro-negro em quinto e o Atlético em sétimo lugar.

Há 15 anos, o Inglês tinha domínio de Manchester United e Chelsea, detentores de todas as taças da Premier League entre 2005 e 2011. Ai de quem dissesse, naquela época, que os dois se tornariam coadjuvantes. Tornaram-se.

Campeões da Premier League desde 2005 - Reprodução

Todo campeonato do mundo produz entre dois e quatro gigantes, que se revezam nos títulos, com exceções esporádicas. Inter, Juventus e Milan, na Itália, com Napoli, Roma, Lazio e Fiorentina, vez ou outra. Barcelona e Real Madrid na Espanha, com Atlético e Valencia de vez em quando. Bayern na Alemanha, com eventuais desafiantes. O Manchester City se meteu na lista dos grandes ingleses, depois de 43 anos de fila (1968-2012).

Campeões da Itália desde 2004 - Reprodução

A diferença do Brasil é reunir 12 gigantes regionais em um torneio nacional. Só é assim por causa dos cem anos de tradição estadual. Com o Brasileiro como prioridade, estreita-se a disputa.

Hoje, Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras se alternam. O que não pode é haver a perpetuação deste grupo seleto.

Considerando a unificação feita pela CBF em 2010, a década de 1960 teve cinco campeões, a de 1970 contou com seis, os anos 1980 tiveram oito, houve sete campeões nos 1990 e nos 2000 e os anos 2010 tiveram cinco.

Campeões brasileiros da década de 1960 - Reprodução

Nenhuma das décadas anteriores privilegiou todos os gigantes. Atualmente, Internacional, Santos e Vasco são os três clubes tradicionais do país há mais tempo sem nenhum troféu, nem estadual. O Botafogo não possui nenhuma conquista nacional ou internacional no século 21, enquanto o Athletico-PR tem quatro —um Brasileiro, uma Copa do Brasil e duas Sul-Americanas.

As coisas mudam e seguem se transformando.

O patrimônio do Campeonato Brasileiro ainda é a imprevisibilidade. Os últimos três campeões perderam pontos para rebaixados. O Palmeiras caiu em casa contra o Ceará, o Atlético para o Grêmio e o Flamengo empatou com o Botafogo. É difícil o campeão ser uma zebra, mas todo mundo sabe que pode ter surpresa na próxima rodada.

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