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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

A paz ainda não ganhou o ouro

Mais importante do que o primeiro lugar é a amizade entre os participantes

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A seis dias do final dos Jogos Olímpicos de Paris, não se verá as Phryges chorando na cerimônia de encerramento, como aconteceu com Misha, em Moscou, 44 anos atrás. Na época, uma lágrima caiu do olho esquerdo do urso, símbolo russo, mascote dos Jogos na então capital da União Soviética.

Era quase um pedido de trégua, depois do boicote das nações do Ocidente, capitaneadas pelos Estados Unidos, em função da invasão ao Afeganistão pelos soviéticos.

As Phryges não são mascotes comuns, porque não representam um animal, mas um ideal. Quase uma esperança de inclusão e de que o mundo se apoie em boas causas.

Phryges, mascotes das Olimpíadas de Paris - AFP

Os Jogos conseguem parte dessa representação, desde a intenção das provas no rio Sena. Não é um sucesso. Também a cada medalha de Rebeca Andrade, uma ginasta negra, nascida em Guarulhos, ou na superação de Simone Biles.

Mas a cada menção aos cromossomos XX, na discussão sobre a boxeadora argelina Imane Khelif, o ideal olímpico um pouco se desfaz.

Também no caso da árbitra norte-americana Tori Penso. Deu 18 minutos de acréscimos em França 0 x 1 Brasil, quartas de final do futebol feminino, teve suas redes sociais invadidas e precisou bloquear comentários de brasileiros.

Há vitórias sobre a intolerância, como o 1 x 0 da França sobre a Argentina, dos cânticos racistas na comemoração da Copa América. Merecida vingança francesa.

Aqui também há uma certa intransigência em transferir a todo um país a responsabilidade pelos cantos entoados por 3 dos 18 inscritos no torneio de Paris: Otamendi, Rulli e Julián Álvarez. A guerra não pode ser contra os argentinos. É contra os idiotas.

É de beleza incomum o sorriso de Rebeca Andrade, mesmo depois da prova da trave, por decisão dos árbitros de difícil explicação —a sexta medalha viria na prova seguinte.

Contraste com a necessidade de sempre se encontrar um culpado a cada derrota, seja na arbitragem do surfe, do judô e da ginástica, seja quando um técnico de futebol no Brasileirão nosso de cada dia resolve poupar seu time e acaba sem três pontos.

Faz cinco anos, um treinador foi condenado por dizer a singela frase: "Perder aqui é normal!". Até hoje, alguém diz que não é.

Maria Bethânia cantou "Brincar de Viver", de Guilherme Arantes, no repertório de abertura de sua turnê ao lado do emocionado irmão, Caetano Veloso. Ela, também com olhos brilhando, ao dizer a frase que bem pode simbolizar Rebeca, ao saber da nota que lhe tirou a medalha: "A arte de sorrir, cada vez que o mundo diz não!".

O lema "O Importante é Competir" não surgiu em Atenas, mas em Londres, 1908, quarta edição dos Jogos modernos. Como as Phryges, nasceu pela simbologia. Mais importante do que o primeiro lugar é a amizade entre os participantes.

Tão vivo este espírito nas equipes de ginástica artística, tão sumido quando o técnico da pugilista búlgara, Svetlana Staneva, levanta cartaz com a frase: "Sou XX". O importante não era competir?

Paris-2024 tem uma boa intenção inegável, o desejo sincero de nos fazer refletir sobre o que estamos fazendo com o planeta e com a humanidade. A segunda semana se inicia com a impressão de estarem tão divididos quanto russos e ucranianos, Israel e Hamas.

Seis anos depois da introdução do lema do Barão de Coubertin, o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando tornou-se estopim da Primeira Guerra Mundial.

A seis dias do fim dos Jogos Olímpicos de Paris, as Phryges representam a esperança. Seus ideais ainda estão longe da medalha de ouro.

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