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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O ponto da virada

Brasil não tem planejamento no futebol feminino, mas, com trabalho, mudança pode ser rápida

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O Brasil escapou da eliminação precoce e decide sua ida às semifinais neste sábado (3), contra a França, no futebol feminino. O país do futebol vive à espera de um milagre, de um técnico ou de uma gênia, como Marta, surgir em nova versão. Ou de um lance extraordinário de alguma jogadora na decisão contra as francesas.

O Brasil não tem um projeto nem planejamento. Mas a virada pode ser rápida, tanto nestes Jogos Olímpicos quanto na estrutura do futebol feminino. Depende de trabalho.

Thiago Arantes, repórter brasileiro residente em Barcelona há dez anos, conta que chegou à Espanha quando a realidade era pior do que aqui.

Marta em partida contra a Espanha nas Olimpíadas
Marta em partida contra a Espanha nas Olimpíadas - Susana Vera - 31.jul.2024/Reuters

A televisão não mostrava nada e as espanholas não jogavam Copas do Mundo nem Olimpíadas. Em Paris, a Espanha é estreante nos Jogos. Entra como favorita, por ter sido campeã mundial, em sua terceira Copa.

Só cinco países estiveram em todas as Copas do Mundo e só dois em todos os torneios olímpicos. O Brasil é um deles, nos dois casos.

"O ponto de virada espanhol é a primeira final do Barcelona na Champions, em 2019. A diferença mesmo se deu na semifinal da Copa da Rainha de 2022, quando 85 mil pessoas estavam no estádio", diz Arantes.

Vivemos à espera de que o trabalho de Artur Elias seja melhor do que de Pia, ou que brote da terra uma nova Marta.

Foi diferente em outras modalidades.

A ginástica artística evoluiu, a partir da contratação de Oleg Ostapenko, em 2001. O basquete tentou com Rubén Magnano, mas o técnico campeão olímpico pela Argentina não passou de uma andorinha num inverno de intenções.

O vôlei ainda é o exemplo de como transformar o nada em tudo. Inesquecível a noite de 17 de setembro de 1982, quando a TV mostrou o esporte ao vivo no Mundialito, organizado pela CBV, transmitido pela Record.

Vôlei na TV era inédito.

Tirando a finalíssima do Sul-Americano feminino de 1981, em Santo André, vitória brasileira sobre as peruanas, o vôlei nunca tinha passado em televisão.

"Foi projeto e planejamento", lembra José Carlos Brunoro, auxiliar técnico daquele time, treinador do Brasil no Mundial de 1986, quatro anos depois.

O técnico, Bebeto de Freitas, voltou dos Estados Unidos, em 1980, desenhou um plano de profissionalismo para jogadores e jogadoras, estruturou-o com a CBV. "As principais seleções treinavam quatro a cinco horas por dia. Nós, quatro horas por semana", lembra Brunoro.

Em um ano, Atlântica Boavista e Pirelli passaram a ser base de uma seleção quase permanente. Quando não estavam juntos, os atletas treinavam com Bebeto, na Atlântica, ou Brunoro, na Pirelli. Um ano depois, o terceiro lugar na Copa do Mundo do Japão significou o primeiro pódio do vôlei, em todos os tempos. A final do Mundialito teve 20 mil pessoas no Maracanãzinho. Um ano depois, 90 mil para ver vôlei no Maracanã.

"Não dá para seguir no futebol feminino os passos do masculino. É preciso estudar as características técnica e física das jogadoras, desenvolver um modo de jogar, estruturar o trabalho delas profissionalmente", diz Brunoro.

Julgamos lindo quando um dos nossos esportes vira potência e se sobrepõe às antigas forças. Quando o vôlei começou a ganhar da União Soviética ou quando Rebeca Andrade é temida por Simone Biles —e a Romênia de Nadia Comaneci nem está na briga.

Duro é quando o vôlei volta a perder da Polônia. Ou quando o futebol masculino cai contra Bélgica e Croácia. E a gente não percebe que melhoraram por estudo, trabalho.

Nem na Santa Ceia houve o milagre da multiplicação de medalhas.

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