Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.
O comunismo moleque é a luta de classes feita no ringue de gel
Há algo de muito peculiar no comunismo que foi implementado por Lula durante os seus primeiros seis meses de governo
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Expectativa: o governo comunista de Lula transformará o Brasil numa Venezuela.
Haverá corridas aos supermercados, hiperinflação e caos. Os comunistas vão tomar o seu patrimônio, invadir sua casa. Nossa bandeira será vermelha. Você perderá seu bem mais sagrado: a liberdade.
Realidade: a queda da inflação já é sentida nos supermercados e nos postos de gasolina. A aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária caminham com força inédita no Legislativo. Tivemos US$ 54 bilhões de superávit na nossa balança comercial no acumulado de janeiro a julho. A agência de classificação de risco Fitch Ratings elevou de "BB-" para "BB" nossa nota de crédito e a Standard & Poor’s melhorou nossa avaliação pela primeira vez desde 2019. Ao mesmo tempo, cessaram os discursos diários cheios de ódio e autoritarismo.
Expectativa: o mensalão, o petrolão, os escândalos de corrupção e o indecente orçamento secreto foram golpes duros. Geraram rejeição violenta da sociedade, o que culminou no desejo de uma nova política: mais limpa, transparente e eficiente.
Realidade: em pouco mais de seis meses, o governo Lula já cede cargos, ministérios e promove o desembarque dos piratas do fisiologismo na máquina estatal. Não consegue espantar a sensação de que as melhorias são negociadas num balcão de padaria.
Há algo de peculiar no comunismo implementado por Lula. Ao atravessar os trópicos, os bolcheviques se tornaram homens cordiais. A justiça social arruma o seu jeitinho, acomoda a burguesia e proletariado na dialética da malandragem. Todo mundo junto e misturado numa gambiarra que se estrutura nas entrelinhas da lei.
Com o perdão de José Miguel Wisnik, essa é a "vocação não linear do comunismo brasileiro". A ocupação de espaços acontece sempre de maneira transitória, improvisada, escapulindo entre o talento e o deboche. A consolidação do comunismo moleque brasileiro tem o drible como esquema tático.
É saúde e saúva ao mesmo tempo. Sectária e democrática. É construção e ruína. Romântico e burguês. Veneno e remédio. Foice e iPhone. É luta de classes num ringue de gel.
A distopia utópica do comunismo moleque é a contradição unificadora. É o sistema que se alia ao coronel para beneficiar o empregado. Que demarca intersecções entre capitanias hereditárias e quilombos. Que se equilibra no desequilíbrio social. E que, ao menos, traz a novidade histórica de incluir os pobres no orçamento. E, claro, a obviedade histórica de incluir também os ricos.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters