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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Arte perdida

Que fim levaram os originais da grande arte gráfica brasileira?

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Numa coluna recente ("Apagando a si mesmo", 3/11), falei de como o Brasil põe fogo em cartas, deixa que arquivos sejam pasto de ratos ou destrói documentos por destruir. Nosso desamor pelo passado é sabido. E, para que não se diga que com um de nós isso não aconteceria, atirarei a primeira pedra em mim mesmo.

Em 1970, fui editor de "Fairplay", a primeira revista masculina do Brasil e que, além dos nus de praxe, tinha como colaboradores Drummond, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar, Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis. Depois de compostos, os originais datilografados desse pessoal iam para o lixo na oficina. Era normal. Mas eu me pergunto hoje que fim levaram os bicos de pena, pastéis e aquarelas de Carlos Leão, Millôr, Jaguar, Claudius, Juarez Machado e outros artistas que desenhavam para a revista. Só sei que, depois de impressos, nunca voltavam para a Redação --a ninguém ocorria resgatá-los. 

Ao folhear ontem a coleção de "Fairplay", lembrei-me desses originais. Por sua beleza de execução e acabamento, ficariam bem em qualquer parede, sem falar no seu valor de mercado. Mas os próprios autores não os pediam de volta, nem perguntavam por eles. Faziam-nos por encomenda e já pautados pelo diretor da revista, mesmo que a ideia fosse absurda. Pedi certa vez a Miguel Paiva: "Miguel, preciso de uma página dupla mostrando uma big band dentro de uma bandeira americana. Dá pra fazer?". Ele fez, ficou ótimo --e nunca mais viu seu original. Nem eu.

Estenda agora esse descaso a todas as revistas publicadas no Brasil, em todos os estilos e épocas, e que tiveram, como capistas e ilustradores, gente como Di Cavalcanti, Portinari, Enrico Bianco, Percy Lau. É grande arte gráfica brasileira que se perdeu.

É possível que, ao morrer, esse material tenha ido para um céu ou inferno das artes gráficas. O purgatório seriam as próprias Redações que o pediram, usaram e deixaram sumir.

Aurora, neta do colunista Ruy Castro, segura exemplar do jornal O Pasquim de 1971 - Pilar de Castro/Arquivo pessoal

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