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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Mundo chamado Ontem

Cada gol hoje é contabilizado, vai para a estatística e vira uma percentagem

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Lewandowski foi eleito pela FIFA na quinta passada (17) o maior jogador de 2020. Seus concorrentes eram Messi e Cristiano Ronaldo. Durante semanas, as agências nos bombardearam com informações a respeito deles: quantos gols de cada um até hoje e em quantos anos de carreira, quantos por jogo, por ano, fora da área, de pé esquerdo ou direito, de cabeça, de pênalti, de falta e de quantos em quantos minutos. E quantas “assistências” que resultaram em gol.

Seguia-se a mesma estatística, só que por suas seleções e pelos clubes em que jogaram —quantos gols, jogos, fora da área, de pênalti, de falta, etc. etc. etc. e as médias por jogo e por minuto de tudo isso. E mais: quantos títulos, vitórias e derrotas por cada clube ou seleção e as respectivas médias por ano, jogo e minutos. É uma avalanche de dados. Não admira que esses monstros vivam batendo recordes, os próprios e os alheios. É o que chamam de “objetivos a alcançar”.

Hoje há computadores que os alimentam e a nós, torcedores, com essas estatísticas. Só lamento que não fosse sempre assim. Gostaria de saber se, armados com tais recursos, teríamos podido analisar o rendimento dos artilheiros de outros tempos.

Para ficarmos só nos atacantes e nos daqui da nossa vizinhança, homens como o peruano Cubillas, os chilenos Valdés e Salas, os uruguaios Schiaffino e Gigghia, os argentinos Labruna, Moreno, Lostau, Méndez, Di Stéfano, Sívori, Artime, Kempes, e os nossos Friedenreich, Feitiço, Preguinho, Leônidas, Zizinho, Perácio, Ademir, Heleno, Julinho, Garrincha, Evaristo, Dida, Vavá, Coutinho, Jairzinho, Reinaldo, Tostão, Zico, Dinamite, Bebeto, Romário, uns mil outros. E, ah, sim, Pelé.

Nenhum deles teve seus gols, passes e dribles contabilizados em estatísticas e percentuais. Eram amados, mas muitos nunca souberam que eram tão bons. Bem feito, quem os mandou jogar naquele remoto mundo chamado Ontem?

Revistas e imagens de Garrincha, que nunca teve seus gols, dribles e passes contabilizados em estatísticas e percentagens - Heloisa Seixas

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