Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Bola na bochecha da rede

Aproveite as novas expressões do futebol antes que elas fiquem fora de moda

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Volta e meia alguém faz um dicionário de futebol, incorporando as últimas expressões. E é bom que assim seja, porque poucos universos são tão ricos em dizer coisas velhas de um jeito novo. Um torcedor de 1999 que tenha dormido na virada do milênio e só acordado agora não entenderá metade do que os narradores e comentaristas dizem hoje ao microfone na transmissão de uma partida. Para o benefício desse hipotético, embora improvável, torcedor, aí vai um pequeno glossário das falas atuais.

A bola de futebol não é mais o velho balão de couro, que alguns chamavam de redonda, outros de menina e às vezes ia dormir no véu da noiva, digo rede. Aliás, a bola nem é mais de couro. Continua redonda, mas ganhou uma riqueza facial digna de uma diva do teatro. Entre outras coisas, tem cara e orelha —ou assim os locutores se referem a um chute certo, "na cara da bola", ou torto, que pegou "na orelha da bola". A rede, por sua vez, agora tem bochecha —um chute bem colocado é o que vai para a "bochecha da rede".

Ninguém mais joga bem —"faz bom jogo". Ninguém mais entra em campo —"vem pro jogo". E ninguém mais sai —"vai embora". A "marcação alta", de que tanto se fala, é só a antiga marcação por pressão, quando os nossos atacantes vão infernizar a saída de bola do adversário. A "marcação baixa" é a velha retranca ou o velhíssimo ferrolho. O críptico "jogar entre linhas" é apenas receber a bola nas costas do adversário.

Garrincha, hoje, não seria um ponta, mas um "extremo" ou, coitado, um jogador "de beirada". E "camisa pesada" não é mais aquela antiga, de pano, que, quando chovia durante o jogo, absorvia água à beça e o jogador penava para carregar no corpo. Agora é apenas a camisa de qualquer time grande, talvez pesada de títulos.

São só novas frases feitas, como se vê. E, como sói, em breve tão antiquadas e fora de moda quanto chamar goleiro de quíper.

Lev Yashin, o quíper Aranha Negra, da extinta URSS, em uma das milhares de vezes que impediu que a bola tocasse a bochecha da rede - Reprodução

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas