Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Com chuva forte, água sobe pelos bueiros e volta a inundar ruas de Porto Alegre

Grande volume de chuva, operação reduzida em bomba e solo encharcado afetaram bairros como Menino Deus e Praia de Belas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Porto Alegre e São Paulo

A chuva forte que atingiu Porto Alegre nesta quinta-feira (23) fez subir o nível de água do lago Guaíba, alagando novamente bairros da capital gaúcha. Em alguns locais onde a limpeza era feita após a água baixar nos últimos dias, o trabalho teve que ser interrompido.

De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a chuva começou às 3h30, e até as 19h já havia chovido 117 mm na cidade. Essa marca é maior do que o temporal do dia 2 de maio, quando foi registrado um acumulado de 108,4 mm.

A volta dos alagamentos a pontos da região central colocou bairros em alerta. Em trechos de Menino Deus e Praia de Belas, a água subiu com rapidez pelos bueiros e pelas bocas de lobo com rapidez.

Após uma semana de sucessivas quedas, o nível do Guaíba subiu 9 centímetros em cinco horas, de acordo com monitoramento feito pela Defesa Civil gaúcha no sistema da ANA (Agência Nacional de Águas). O nível do lago estava em 3,83 metros às 9h15 desta quinta, e às 14h15 havia subido para 3,92 metros —a cota de de inundação é de 3 metros. O recorde, de 5,33 metros, foi alcançado no início deste mês.

Volta a chover forte, e bairros alagam em Porto Alegre - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Na quarta-feira (22), a Sala de Crises da Região Sul divulgou que as águas do Guaíba não devem voltar a ficar abaixo dos 3 metros antes de 12 dias.

Nesta quinta, a empresa gaúcha MetSul Meteorologia afirmou que constatou um problema na medição do nível do Guaíba feita pela régua eletrônica instalada de forma emergencial pelas autoridades e que, por isso, deixará de divulgar o nível do lago —na avaliação da empresa, o nível do lago está abaixo do que o indicado pela régua. A MetSul disse, porém, que reitera o "aviso de tendência de elevação das águas" entre esta sexta (24) e sábado (25).

Pela manhã, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), convocou sua equipe para uma reunião de emergência. À tarde, em entrevista coletiva, ele disse que todas as aulas foram suspensas nas redes pública e privada e fez um apelo para que os moradores de Porto Alegre não saiam às ruas. Afirmou, ainda, que choveu mais que o previsto inicialmente e que o nível do lago pode subir ainda mais nesta sexta-feira.

"A prefeitura não foi pega de surpresa, sabia que ia chover. A meteorologia dizia 60, 80 milímetros, mas a chuva caiu de forma intensa. Passou de 130 milímetros em alguns lugares", afirmou o prefeito. "Do ponto de vista do rio, a chuva chegará amanhã [sexta] e isso pode levar o nível do Guaíba em 40 a 54 centímetros."

Também presente na coletiva, Mauricio Loss, diretor-geral do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), disse que o cenário atual favorece a formação rápida de novas inundações.

"Numa situação normal, esse volume de chuva em um curto período já nos traria problema. Mas temos um somatório, o Guaíba extremamente alto, todos os arroios que desembocam no Guaíba, e o solo encharcado que já não consegue absorver água", disse Loss. Segundo ele, 10 das 23 estações de bombeamento de água estavam funcionando nesta quinta.

Por fim, tanto Melo como Loss afastaram a possibilidade de falhas no sistema de drenagem da cidade. "A causa da elevação [de água]? É a chuva. Chuva em Porto Alegre, chuva nas cabeceiras e no curso desses rios", afirmou o Melo.

Pela manhã, em poucas horas a enchente fechou o caminho na rua José de Alencar, formando uma correnteza no asfalto e impedindo a passagem de carros e ônibus no trecho em frente ao hospital Mãe de Deus. A instituição teve o subsolo alagado nos últimos dias com a cheia do Guaíba, e a nova elevação das águas interrompeu o processo de limpeza.

Alguns moradores e comerciantes começaram a deixar prédios na região, e a água já os atingia na altura dos joelhos.

Repiques da inundação também foram registrados em vias adjacentes à avenida Praia de Belas, como nas ruas Botafogo, 17 de Junho, Coronel André Belo, Doutora Rita Lobato e Aureliano de Figueiredo Pinto.

A situação nos últimos dias caminhava para um cenário mais positivo, mas a virada no tempo assustou os porto-alegrenses. A chuva torrencial que atingiu a capital e cidades cuja água deságua no Guaíba colocou o estado novamente em alerta.

Nas ruas de Porto Alegre, o arroio Ipiranga, calmo na última semana, apresentava uma corrente de água violenta nesta quinta. O tradicional Parque da Redenção, que estava seco, tinha trecho alagado na avenida Oswaldo Aranha.

Em alguns bares da Cidade Baixa que foram limpos por proprietários e voluntários no final de semana, a água voltou a subir, gerando receio de novas inundações.

Outro desafio é que o escoamento pelos bueiros ocorre por gravidade em direção ao arroio Dilúvio, que está sobrecarregado pela água do Guaíba, fazendo com que a água retorne às ruas.

O coordenador da Defesa Civil municipal, coronel Evaldo Rodrigues, pediu que moradores das regiões afetadas, principalmente residentes de locais mais baixos e áreas térreas de edifícios, "monitorem a situação e, em caso de necessidade, busquem um abrigo em local seguro".

"Com esses acumulados [de chuva], as áreas que já tinham sido atingidas por inundações permanecem em atenção", explicou Rodrigues.

De acordo com a prefeitura, a Ebap (Estação de Bombeamento de Água Pluvial) 12 está operando com capacidade reduzida, o que causa acúmulo de água na região, e o acúmulo da água da chuva agrava a situação.

Segundo diretor-geral do Dmae, equipes trabalhavam nesta quinta para ampliar o bombeamento das casas de bombas 12, 13 e 16, que atendem os bairros Menino Deus, Praia de Belas e Cidade Baixa. Também atuavam na limpeza das vias com caminhões hidrojato para remoção de lodo, areia e outros detritos.

Regiões fora da área da Ebap 12 também registram novos alagamentos. No bairro Centro Histórico, a água subiu perto da praça Montevidéu, próximo à antiga sede da prefeitura de Porto Alegre e o Mercado Público.

Na foto, trabalhadores de limpeza vestidos de laranja operam no centro de Porto Alegre
Chuva voltou a alagar áreas que estavam iniciando ações de limpeza, como no centro histórico da capital gaúcha - Nelson Almeida/AFP

Na Vila Flores, espaço cultural na zona norte de Porto Alegre, um mutirão de faxina foi suspenso pela manhã quando a água tomou conta da rua São Carlos, paralela à avenida Farrapos.

"A gente estava empenhado, com equipamento, bastante gente no espaço, e teve que suspender essa atividade", disse o arquiteto João Felipe Wallig, 37, colaborador do local.

Na quarta-feira, móveis que tinham condição de recuperação foram colocados no pátio para facilitar a limpeza. Como a água subiu com velocidade, a prioridade foi levantar o máximo de equipamentos possíveis, mas a maior parte da mobília ficou na área externa.

A advogada Scheila Nery, 51, moradora da rua Gonçalves Dias, no bairro Menino Deus, conta que voltou na noite de quarta para casa após ficar quase 20 dias fora da cidade.

"Eu fui para Canoas no dia 3 e não consegui voltar, pois os acessos a Porto Alegre foram bloqueados. Em seguida, o bairro alagou e eu não tinha mais como acessar meu prédio", disse Scheila.

Ela diz que esteve em segurança em Canoas, cidade também muito afetada pelas cheias, e retornou à capital com a liberação parcial do acesso. Entretanto, poucas horas após chegar em casa, a água subiu na rua, assim como outras no entorno. Somente à tarde a inundação retrocedeu um pouco.

"Por enquanto vou aguardar. Se a água subir novamente, vou tomar providências para tentar sair do prédio e não ficar ilhada aqui."

Colaborou Paula Soprana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.