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Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Atores e obesos

De Niro engordou para fazer um obeso; hoje, seu papel teria de caber a um obeso de verdade

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"A Baleia", filme favorito ao Oscar de melhor ator, levanta a questão sobre quem e como se deve interpretar um obeso no cinema.

Jake LaMotta, o boxeur interpretado por Robert De Niro em "Touro Indomável" (1980), precisava ser mostrado envelhecido, decadente e gordo. Para isso, um ator normal teria recorrido aos truques clássicos do cinema para engordar: maquiagem especial, próteses de papadas, roupas com enchimentos. Foi o que fez Orson Welles em "A Marca da Maldade" (1958). No papel de um policial velho e obeso, ele acrescentou 30 quilos a seu corpo apenas com os recursos de cena. O personagem aparentava uns 60 anos; Orson tinha 43.

Mas Robert De Niro não é um ator normal. É um ex-Actor’s Studio ao quadrado. Em vez de simular a gordura, resolveu engordar de verdade. Ordenou ao diretor Martin Scorsese, já então seu funcionário, que paralisasse a produção. Zarpou para os restaurantes de Paris, entregou-se a um regime de engorda e, em quatro meses, passou de 70 para 100 kg, tudo isso para uma única cena. Claro, ganhou o Oscar.

Melhor para ele. Em "Moulin Rouge" (1952), de John Huston, José Ferrer, 1,78m, viveu o pintor Toulouse-Lautrec, 1,52m, sem precisar cortar as pernas. Em "O Retrato de Jennie" (1948), de William Dieterle, Jennifer Jones, 26 anos, fez uma radiante adolescente sem apelar para um processo mágico de rejuvenescimento. Lon Chaney, em 1925, Charles Laughton, em 1939, e Anthony Quinn, em 1956, todos foram o Quasimodo de "O Corcunda de Notre Dame" sem se desfigurarem de verdade. E John Barrymore, em 1920, Fredric March, em 1932, e Spencer Tracy, em 1941, fizeram os dois papéis de "O Médico e o Monstro" quase sem maquiagem. Isso, sim, é mágico —usaram somente a arte de representar.

Brendan Fraser, o astro de "A Baleia", trabalhou à moda antiga, ou seja, como um ator. Mas, em breve, o papel de um obeso caberá a um obeso de verdade, e por que não?

Cartaz original de 'A Marca da Maldade' (1958), filme de e com Orson Welles - Reprodução

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