Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.
Os livros que você nunca leu
Ou leu, mas com títulos diferentes daqueles que seus autores originalmente lhes deram
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Conhece o romance "O Mundo Coberto de Penas", de 1938? Trata da seca no Nordeste. Seus personagens são uma família de retirantes famintos seguindo por uma estrada com sua cachorra Baleia. O autor é Graciliano Ramos. E, antes que você diga que esse livro é plágio de "Vidas Secas", vou logo dizendo que ele é o próprio "Vidas Secas", com o infeliz título original que lhe foi dado por Graciliano e que a Editora José Olympio fez muito bem em corrigir.
Quantos outros romances não estarão nesse caso? "A Maçã no Escuro" (1961), de Clarice Lispector, nasceu como "A Veia no Pulso". Mas Fernando Sabino, ao lê-lo ainda no manuscrito, argumentou que poderiam entender "Aveia no Pulso", o que não era bem a ideia. Não que o livro tenha a ver com maçãs no escuro —é só uma imagem para designar algo difícil de pegar, de apreender.
Muitos escritores já quase se estreparam no título. "A Ilha do Tesouro" (1883), de Robert Louis Stevenson, ia se chamar "O Cozinheiro do Navio"; "O Grande Gatsby" (1925), de Scott Fitzgerald, "Incidente em West Egg"; e "1984" (1949), de George Orwell, "O Último Homem na Europa".
E há os casos de livros que tiveram seus títulos simplificados pelos leitores. "Robinson Crusoé" (1719), de Daniel Defoe, chama-se, na verdade, "A Vida e as Estranhas e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé"; "Frankenstein" (1818), de Mary Shelley, "Frankenstein, o Moderno Prometeu"; e "Alice Através do Espelho" (1871), de Lewis Carroll, "Através do Espelho... e o que Alice Encontrou Lá".
A peça "Bonitinha, mas Ordinária" (1962), de Nelson Rodrigues, é "Otto Lara Resende, ou Bonitinha, mas Ordinária". Ao ver aquilo, Otto implorou para que Nelson o mudasse: "Vão achar que a bonitinha mas ordinária sou eu!". Mas Nelson não mudou e, segundo ele, Otto estava só fingindo protestar —gostou tanto que até se ofereceu para pagar o neon na fachada do teatro.
Erramos: o texto foi alterado
Em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, um papagaio de estimação foi comido pela família de retirantes famintos, não a cachorra Baleia. Esta foi morta com um tiro quando “estava para morrer”.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters