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Bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

Basta a imaginação para que o cérebro esqueça os medos

Às vezes o medo cresce e se torna paralisante, mas cérebro humano é flexível e pode ser treinado

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Medo aprendido é uma emoção poderosa. Medo se aprende rápido e potencialmente para sempre, o que é muito útil: basta uma sensação de ameaça extrema, e o lugar, as pessoas, as circunstâncias e os objetos envolvidos entram juntos para a memória, cortesia do hipocampo e da amígdala no seu cérebro, que formam no ato novas associações entre as representações de todos os envolvidos. 

Pronto: da próxima vez que qualquer um deles for encontrado, o fio da meada de um puxa os outros, o que dispara o alarme da memória que, por sua vez, serve como previsão de novo evento pavorosamente ruim. A antecipação nos faz suar frio e nos mantém a salvo.

Se aprendemos o medo rapidamente, extingui-lo requer exposição repetida até o cérebro se convencer de que o lugar, a pessoa ou a circunstância não é mais uma ameaça. Na prática, isso significa que, uma vez aprendidos, nossos medos nos acompanham ao longo da vida até que se prove o contrário --e várias vezes. 

Às vezes o medo cresce e se torna paralisante ou se alastra e contamina o que deveria ser inócuo, mas há solução. 

A dificuldade de tratar fobias e angústias não sofre mais de falta de conhecimento. Nos países que investem em ciência, pesquisadores já descobriram que extinguir as emoções negativas associadas aos gatilhos de fobias diversas consiste em recrutar o córtex pré-frontal ventromedial (tradução: na parte de baixo do centro do córtex, logo atrás da sua testa), que atua como uma central de controle de reações emocionais e modifica hipocampo e amígdala. A terapia bem-sucedida, portanto, é aquela que muda o cérebro e o convence de que o perigo não existe mais.

O problema é que a exposição necessária à extinção em geral não é bem-vinda, possível nem ética, como em caso de pavor aprendido em guerra militar ou civil. Novas tecnologias usando realidade virtual ajudaram muito, por exemplo expondo pacientes a aranhas ou parapeitos elevados na segurança do consultório. 

Mas, no final das contas, imaginação basta. Segundo um estudo realizado em colaboração entre a Universidade do Colorado e a Escola Icahn de Medicina em Mount Sinai, nos EUA, terapia por simples imaginação das situações problemáticas é suficiente para recrutar o córtex pré-frontal ventromedial e sossegar hipocampo e amígdala. As sessões consistem em imaginar eventos e situações que disparam reações de fobia e angústia, e persistir na imaginação até que as sensações físicas negativas associadas desapareçam.

Taí: o cérebro humano é tão flexível que pode até ser ensinado a esquecer. Basta imaginar direito.

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