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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Descrição de chapéu Mundial de Clubes

Vítor Pereira vive dificuldade encontrada por Parreira em 2006

Sonho do técnico da seleção na Alemanha era time com menos craques e mais previsível

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Aprendi na medicina e na psicanálise que não devemos transportar o que está nos livros para todos os pacientes. Estes, com a mesma doença, são diferentes. Os sintomas de cada um é que devem ser comparados com o que está nos livros. O doente é que tem de ser tratado, não a doença.

O mesmo ocorre na vida. As experiências vividas, que parecem idênticas, são diferentes em cada época. Por ser mais fácil e seguro, o ser humano costuma repetir comportamentos, como se os instantes fossem iguais. No futebol, é parecido. Cada jogo tem seus detalhes, sua história, e deve ser visto e conduzido de variadas maneiras.

Vitor Pereira em partida final da Copa do Brasil, entre Flamengo e Corinthians - Sergio Moraes-19.out.22/Reuters

O sonho de muitos treinadores e analistas, extremamente racionais, mesmo sem admitir, é fazer do futebol um esporte puramente científico, técnico, tático, programado, ensaiado e calculado. A surpresa, os detalhes subjetivos e o imponderável não teriam nenhuma importância.

O futebol que vi e que vivi, em épocas diferentes, têm expressões diferentes. Resumindo, nos anos 1960 e 1970, havia um fascínio pelo jogo mais livre, mais inventado, mais fantasioso. Os artistas e habilidosos brasileiros eram endeusados em todo o mundo. Depois, progressivamente, especialmente nas décadas de 1980 e 1990, o futebol ficou mais científico, planejado, utilitário, físico, com poucos devaneios individualistas. Ficou também mais feio e previsível.

Após a Copa de 2002, houve uma transformação, que continua até hoje, para melhor. Construiu-se uma união entre as duas épocas anteriores, uma mistura de pragmatismo, improvisação e inventividade. O jogo ficou mais intenso, mais emocionante, mais bonito, mais técnico e tático.

Aumentaram também as discussões sobre o que é mais importante, o desempenho ou o resultado, a beleza ou a eficiência. As duas visões são essenciais e necessárias. No futuro, que já chegou, os times alternam estratégias diferentes a cada jogo e até em uma mesma partida, de acordo com o momento.

Em todos esses períodos, os craques sempre estiveram presentes. São eles que embelezam o futebol. Mas não é fácil juntá-los em um mesmo time. Antes da Copa de 2006, o bom e pragmático técnico Parreira disse que escalar Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano seria o limite da ousadia. Parreira tentou posicionar os craques de uma maneira diferente, e não deu certo. Imagino que o sonho do técnico seria dirigir uma seleção com menos craques e mais previsível.

Vítor Pereira passa por algo parecido no Flamengo. Gostaria de ter jogadores pelos lados que marcam e atacam, como exigia que Róger Guedes jogasse no Corinthians, mas sabe que não pode abrir mão dos melhores e de escalar juntos Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro.

Seja qual for o esquema que vai usar no Mundial de Clubes, o técnico será bastante criticado se o time não for campeão. Por estar no início do trabalho, ainda falta a Vítor Pereira a definição e a segurança que tem Abel Ferreira no Palmeiras.

O passado está sempre junto com o presente. Existe um saudosismo, uma tendência de achar que tudo no passado era melhor. O genial Woody Allen, no filme "Meia-Noite em Paris", mostrou como a memória afetiva do que foi vivido ou imaginado é mais prazerosa para a maioria das pessoas do que o presente. O ser humano está sempre insatisfeito com o atual.

"Deve-se viver a vida olhando para a frente, mas só se pode entendê-la olhando para trás." (Kierkegaard, filósofo dinamarquês)

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