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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Ciência e acaso se misturam no futebol e na vida

O futuro não é destino, é o que construímos, influenciado pelo imprevisto

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Muitos fatos que ocorrem no futebol e na vida não são pensados, programados, ensaiados. Ocorrem de repente, em um piscar de olhos. Além disso, provocam uma sequência de acontecimentos que podem mudar a história do mundo e das pessoas. Mais que isso, costumam estar associados ao que foi estudado, programado.

Ciência e acaso se misturam e muitas vezes, são difíceis de separá-los, explicá-los. No futebol, acaso não é sorte. São fatos habituais que acontecem durante o jogo, porém não sabemos quando e onde ocorrerão.

Segundo a escritora e filósofa Simone de Beauvoir, companheira de Jean-Paul Sartre, criadores do existencialismo, filosofia que se originou na França, em 1938, a última palavra é do acaso. Gostaria de ter visto dias atrás em São Paulo, no parque Ibirapuera, o monólogo sobre a obra da filósofa, interpretada pela grande dama Fernanda Montenegro. Segundo a Folha, estavam presentes milhares de pessoas, especialmente jovens, o que é animador.

Fernanda Montenegro interpreta trechos do livro 'A Cerimônia do Adeus' (1981), de Simone de Beauvoir - Folhapress

A tempestade de emoções, técnica, tática, criatividade e imprevistos presentes no empate por 2 x 2 entre Palmeiras e Botafogo, que eliminou o time paulista da Libertadores, vai muito além das explicações. Se a bola tivesse batido na barriga a poucos centímetros do braço do jogador alviverde, o gol no último minuto não seria anulado, a partida iria para os pênaltis, poderia ter tido outro final e as análises seriam diferentes.

Na história do futebol, detalhes determinaram a evolução na maneira de jogar das equipes. Duas seleções que encantaram o mundo e são até hoje muito elogiadas, não foram campeãs, a da Holanda em 1974 e a do Brasil em 1982. Se tivessem vencido, a maneira de jogar futebol se tornaria diferente?

Escrevi, um milhão de vezes, que após a derrota do Brasil para a Itália em 1982, muitos colocaram a culpa na pouca marcação no meio campo. Por isso e outros motivos, os técnicos brasileiros dividiram o setor entre os volantes que marcam e os meias que atacam. Desapareceram os meio-campistas, que atuavam de uma intermediária a outra, que marcavam, constroem e avançam, como Didi, Gerson, Falcão e outros. Após décadas, isso começou a mudar, lentamente, pois não temos ainda hoje um grande craque no meio campo com estas características.

Falcão em lance de Brasil 2 x 3 Itália, na Copa de 1982 - Fifa

A evolução na Europa foi diferente. Eles, encantados com os meio-campistas brasileiros das Copas de 1982, 1970, 1962 e 1958, passaram a formar esse tipo de jogador, como Xavi, Iniesta, Rodri, Kroos, Modric e tantos outros. Os meio-campistas criavam e os laterais marcavam. No Brasil a evolução foi o contrário. Os volantes marcavam e faziam a cobertura dos laterais. Isso durou décadas.

Hoje, com tantos pontas rápidos e dribladores, os laterais brasileiros, como os convocados para a seleção, que são os mesmos da Copa América, não apoiam nem avançam, já que os espaços pelos lados já estarão ocupados pelos pontas.

Cruyff marca na partida Holanda 4 x 0 Argentina, na Copa de 1974, na Alemanha - AFP

Se a Holanda, com seu futebol total e marcação por pressão em todo campo, uma prática revolucionária para a época, tivesse vencido a Alemanha na final da Copa de 1974, não teríamos que esperar 30 anos para surgir o Barcelona, dirigido por Guardiola, que modernizou a estratégia da Holanda. Guardiola, jogador do time catalão bebeu na fonte do técnico Cruyff, que, quando jogador, se inspirou no treinador Rinus Michels, treinador da Holanda em 1974. Hoje, as grandes equipes do mundo tentam marcar por pressão o maior tempo possível.

O futuro não é destino. O futuro é o que construímos, influenciado pelo acaso.

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