Governos e produtores veem indícios de crime e PF e SP investigam incêndios

Fogo já queimou área de 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, causando prejuízo de R$ 350 milhões

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SÃO PAULO, BRASÍLIA E BATATAIS (SP)

A PF (Polícia Federal) abriu dois inquéritos neste domingo (25) para investigar suspeita de ação criminosa nos incêndios que afetam o estado de São Paulo.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o fato de os incêndios no interior paulista se intensificarem em dois dias, a partir da quinta (22), é sinal de ação humana. A suspeita de atuação criminosa também foi compartilhada pelo presidente Lula (PT).

Nas redes sociais, ele afirmou que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não registrou nenhum incêndio por causas naturais em São Paulo. "Significa que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os estados do país já estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo", disse.

Em reunião em Brasília neste domingo, Lula afirmou: "Ali é tudo propriedade privada, é canavial, é fazenda", em referência a São Paulo e a suspeita de incêndios criminosos.

Imagem aérea de um incêndio florestal, mostrando chamas laranja na borda de uma área de vegetação. O céu está coberto por nuvens de fumaça densa e escura, enquanto a vegetação abaixo aparece em tons de amarelo e verde. Uma estrada é visível na parte central da imagem, separando a área que está pegando fogo da vegetação ao redor.
Fogo devastando plantação de cana em Dumont, na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo - Joel Silva - 24.ago.2024/Reuters

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, anunciou que as 15 delegacias da instituição no interior de São Paulo e a superintendência regional estão mobilizadas para a investigação.

Mais cedo, também neste domingo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já havia dito que a Polícia Civil de São Paulo investiga casos de possíveis incêndios criminosos. A corporação diz apurar vídeos e imagens mostrando o que seriam autores das queimadas. Os registros circulam nas redes sociais.

Dois homens foram presos neste fim de semana em São Paulo suspeitos de atear fogo, em São José do Rio Preto e Batatais. O primeiro caso, no sábado, foi de um idoso de 76 anos suspeito de incendiar lixo em mata no bairro Jardim Maracanã, em São José do Rio Preto.

No domingo, em Batatais, um homem de 41 anos foi detido após ser flagrado por um morador, no bairro Jardim Celeste, colocando fogo em uma mata. Ele portava um isqueiro e uma garrafa com gasolina.
De acordo com policiais, o telefone celular do suspeito tinha vídeos de incêndios armazenados na galeria de imagens —inclusive dele comemorando outras queimadas.

Tarcísio, em visita a Ribeirão Preto, cidade que concentra grande parte dos focos de calor, disse que o detido em Batatais tem histórico de crimes. "Criminoso, com passagem pela polícia, com gasolina, ateando fogo, quer dizer, querendo agravar a situação", disse o governador.

Produtores rurais de São Paulo ouvidos pela reportagem compartilham da hipótese de que os incêndios têm origem criminosa. Eles afirmam acreditar que o fogo dos últimos dias foi provocado por ação humana. Representantes do setor disseram à Folha que a forma como as queimadas começaram aponta para uma ação coordenada.

Almir Torcato, diretor-executivo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), afirma que, embora as condições climáticas fossem favoráveis a incêndios (calor acima de 30°C, ventos fortes e baixa umidade), o fogo começou de pontos separados, o que pode indicar ação humana.

"Nós, como instituição, não temos prova suficiente para falar que foi algo coordenado. Mas os fatos por si só não são coerentes para ter sido exclusivamente natural, considerando as imagens de satélite e tudo mais", diz Torcato.

Torcato afirma que há décadas o setor já não usa queimadas na produção —atividade que, segundo ele, era comum quando a cana era colhida sem mecanização.

A visão é compartilhada pelo produtor Marco Guidi. Segundo ele, o setor nunca viu um incêndio ocorrer dessa forma.

"Os focos iniciaram simultaneamente, em pontos distantes um do outro, dificultando a presença das brigadas", afirma Guidi. "Tudo leva a crer que foi uma ação criminosa e bem articulada."

Segundo a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), essa é uma luta antiga do setor. A entidade diz que, em 2022, entregou um ofício à Secretaria de Segurança do Estado no qual pedia que os casos de suspeita de incêndios criminosos fossem levados adiante e investigados.

Empresas do setor também dizem que suspeitam de queimadas provocadas por ação humana. A Raízen diz acreditar que os incêndios são de natureza criminosa, agravados por estiagem, baixa umidade do ar, ação dos ventos e altas temperaturas.

Camada de fumaça encobre zona sul da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo  - Joel Silva/Folhapress

Empresa do setor agrícola, o Grupo Moreno chegou a oferecer recompensa de R$ 30 mil por informações de incêndios criminosos.

O fogo no interior de São Paulo nos últimos dias já queimou 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, causando um prejuízo aos produtores rurais de R$ 350 milhões.

Os dados são da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) e contemplam áreas a serem colhidas e também de rebrota de cana pulverizadas em várias regiões agrícolas paulistas. Só entre sexta e sábado, foram 2.105 focos de incêndio no estado, 1.800 no primeiro dia e 305, no dia seguinte.

"O sábado começou melhor, mas os fortes ventos atrapalharam muito no fim do dia", afirmou o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira.

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