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Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de "Criar Filhos no Século XXI" e “Manifesto antimaternalista”. É doutora em psicologia pela USP

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Uma semana sem o capitão

Assistindo ao retorno do Greg News, lembrei que merecemos celebrar

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Desde a vitória de Lula, alternamos a festa com momentos de apreensão devido aos bloqueios e à violência. Luana Barcelos, de 12 anos, e Pedro Henrique Soares, 28, foram mortos enquanto celebravam, um homem perdeu a chance de ter o coração transplantado, crianças foram impedidas de fazer quimioterapia, um ônibus de estudantes foi invadido por brutamontes, uma criança foi asfixiada, insumos de vacinas quase foram perdidos e o prejuízo financeiro é incalculável.

Mas, assistindo ao retorno do Greg News, lembrei que, ainda assim, merecemos comemorar. A imagem de um golpista percorrendo quilômetros agarrado à frente de um caminhão ganhou proporções épicas no mundo dos memes. Impossível deixar de rir com as montagens que recebemos incessantemente pelas redes. Como sabemos desde Freud, o chiste nos faz rir pois carrega consigo uma verdade que driblou nossa resistência. O meme tem a incrível capacidade de condensar, em uma única imagem, quão pífia é a pretensão dos perdedores de uma eleição sabidamente democrática pararem o país por não aceitarem o resultado e, de quebra, explicitar como nunca se tratou de uma paralisação da classe dos caminhoneiros.

Gregório Duvivier no Greg News, da HBO, em edição que celebrou a derrota do bolsonarismo - Reprodução

Se fomos capazes de encarar quatro anos dos descalabros diários de um desgoverno eleito pela maioria, o mínimo que se exige é que os perdedores da vez tenham a dignidade de fazer o mesmo. Políticos bolsonaristas eleitos que continuam a atacar a lisura do processo eleitoral deveriam ser coerentes e abrir mão de tomar posse dos seus cargos. Afinal, não foram eleitos pelo mesmo pleito que contestam?

Mas dignidade e coerência não são o forte dessa turba.

Cenas de manifestantes ensandecidos com as fake news da prisão de Alexandre de Moraes e do cancelamento das eleições foram intermediadas por infiltrados anti-bolsonaro filando a comida dos golpistas. Entre o trágico e o cômico vimos a loucura, a ingenuidade e a má-fé fazendo a festa.

Onde se esperava um capitão amotinado, viu-se o capitão na moita, para desespero dos fanáticos, a quem só sobrou um pneu para chamar de seu. Quando a massa alienada perde seu líder aglutinador, resta a guerra fratricida para descobrir quem ocupará o lugar do mito (que goza impune acima de todos) ou encontrar qualquer imagem que lhe sirva de "step". Daí o pneu, com seu imenso vazio central revelando a natureza última da xaropada autocrática. Como o discurso não morre junto com seus representantes, resta saber na boca de quem será reencarnado, se de outro mito ou do mesmo. Nesse sentido, Trump foi mais eficiente, arriscou tudo dobrando a aposta e retendo seu capital político. Para nossa sorte, o fantoche brasileiro não teve tamanha convicção ou cálculo.

A outra imagem da semana, que nos trouxe uma alegria emocionada, foi a das torcidas organizadas, que surgiram para preencher o vácuo da PRF. O diretor do órgão foi conivente tanto na sandice do bloqueio das estradas, quanto nas blitze feitas no dia da votação. Coube à torcida do Galo, do Corinthians, do Palmeiras e do Fortaleza tirar pneus e manifestantes no grito, provando que ainda se torce por esse país.

E para finalizar, temos o vídeo no qual três maranhenses andam 25 quilômetros a pé, pois a PRF reteve suas motos no dia da eleição. Eles seguem o caminho sob o calor do Nordeste, xingando merecidamente o "cabelo liso" que tentou impedi-los de votar, com um humor de quem sabe que a blitz só serviu para atestar o poder de seus votos.

E com isso completamos a primeira semana desde a vitória, na qual o processo de transição já bastou para relembrarmos o que é ter governo.

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