Bloqueios antidemocráticos impedem realização de transplante cardíaco

Órgão precisaria ser levado de Goiânia para São Paulo, e governo paulista alegou que não haveria tempo hábil; paciente espera novo doador

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São Paulo

Os bloqueios antidemocráticos em estradas, contrários ao resultado da eleição presidencial, impediram nesta semana a realização de um transplante de coração. O órgão precisaria ser transportado de Goiânia para São Paulo e, como não seria possível o deslocamento em tempo hábil, a cirurgia não foi realizada.

Segundo a SES-GO (Secretaria de Estado da Saúde de Goiás), na noite de terça-feira (1º) foi feita a captação múltipla de órgãos de um paciente com morte encefálica no Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz, em Goiânia. Foram captados rins e córneas, destinados a pacientes de Goiás, e o fígado, com destino ao Distrito Federal. No total, cinco pessoas foram beneficiadas.

O coração também estava apto para doação, mas não chegou a ser captado porque não foi aceito pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Em Goiás, as rodovias federais estavam desbloqueadas e não haveria empecilho para levar o órgão ao aeroporto Santa Genoveva, mas a pasta paulista julgou que não seria um deslocamento viável —em São Paulo, havia bloqueios em diferentes pontos na noite de terça.

Apoiadores de Bolsonaro bloqueiam trecho da rodovia Castelo Branco, em São Paulo, na terça-feira (1º) - Eduardo Knapp/Folhapress

"Pela exigência de rapidez no transporte do coração, que deve chegar ao doador em até quatro horas, as equipes técnicas responsáveis consideraram que, devido a bloqueios, não seria possível realizar a operação de forma que o órgão chegasse com segurança ao paciente", afirmou a Secretaria da Saúde de São Paulo. A pasta não informou em que cidade do estado estava o paciente.

A secretaria de Goiás tentou, então, disponibilizar o coração para um receptor do Distrito Federal, mas não houve compatibilidade.

Com a perda do órgão, o paciente de São Paulo segue aguardando um novo doador compatível.

Além do impacto em cirurgias, os bloqueios contrários à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial colocaram em risco a oferta de oxigênio líquido medicinal para hospitais e a produção de 1,5 milhão de doses da vacina contra gripe.

Na manhã desta sexta-feira (4), a PRF (Polícia Rodoviária Federal) ainda indicava bloqueios em Mato Grosso do Sul e no Amazonas. Já os estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia registravam bloqueios parciais, de acordo com as polícias rodoviárias dos estados.

No domingo (30), após a divulgação do resultado da eleição, quatro pessoas foram baleadas enquanto celebravam a vitória de Lula, em Belo Horizonte, e duas delas morreram —um homem de 28 anos e uma adolescente de 12 anos. O suspeito de cometer o ataque está preso.

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