Relatório assinado por 12 ex-chefes de Estado critica classificação internacional de drogas
Um dos signatários é o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Lançado nesta terça-feira (25), em Lisboa, o relatório de 2019 da Comissão Global de Política sobre Drogas critica duramente os critérios usados nas últimas décadas para classificar substâncias psicoativas em todo o mundo.
O documento é assinado por 12 ex-chefes de Estado e três vencedores do Nobel da paz. Um dos signatários é o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que presidiu a entidade, uma espécie de painel de intelectuais e políticos de várias partes do mundo, entre 2011 e 2016.
Segundo o relatório, ao invés de pesquisas científicas e farmacológicas bem documentadas, as listas internacionais — que são a base das convenções da ONU que estabelecem o regime mundial de controle de drogas — acabam influenciadas muitas vezes por critérios de moralidade, ideologia e mesmo obtenção de ganhos políticos.
Tendo por base uma série de critérios técnicos, o relatório afirma que há um problema estrutural com o sistema de listagem de drogas ilícitas: é fácil incluí-las e extremamente difícil debater qualquer exclusão, mesmo que com argumentos científicos ou médicos.
O documento critica ainda a abordagem de proibição e perseguição da chamada guerra às drogas, sugerindo uma abordagem baseada em evidências e que leve em consideração também aspectos regionais e culturais.
O relatório lista o que seria uma série de consequências graves das atuais políticas de proibição.
“Há pessoas a serem executadas por crimes relacionados com drogas, mulheres que ficam com registro criminal e são separadas dos seus filhos, indivíduos com dependência que são presos e submetidos a tratamentos forçados, nos quais sofrem abusos físicos e mentais, comunidades que são destruídas enquanto grupos criminosos entram em guerras pelo controle de territórios, agricultores que veem as suas culturas pulverizadas com pesticidas prejudiciais e centenas de milhares de pessoas que morrem todos os anos por overdose, são infectadas com HIV ou sofrem dores incapacitastes sem terem acesso a tratamentos adequados, cuidados de saúde ou medicação", afirma o documento.
FHC falou no evento de abertura. “Há muitos ex-mandatários aqui, alguns bem recentes. Isso serve para mostrar que, pelo menos para alguns, a experiência no poder serviu para mostrar que a guerra às drogas foi inútil”, disse o tucano.
“Não quer dizer que não devamos prestar atenção [ao problema]. Isso quer dizer que, ou adotamos uma política mais humanizada e olhando o bem-estar das pessoas, ou esta guerra [às drogas] é inútil”, completou o ex-presidente.
Critérios
O sistema atual de classificação de substâncias psicoativas é regido por duas convenções da ONU sobre o assunto, uma de 1961 e outra de 1971.
Cada uma delas criou quatro listas de substâncias, onde estas drogas são divididas segundo o potencial de dependência, a possibilidade de consumo abusivo e a sua utilidade terapêutica.
Segundo o relatório recém-lançado, há problemas sérios com esse modelo e a forma como as substâncias são incluídas na lista, inclusive nos critérios estabelecidos para uso terapêutico.
“Os únicos benefícios do consumo de substâncias psicoativas reconhecidos por estas convenções internacionais são o tratamento ou o alívio da dor, ignorando ou até excluindo outros usos de caráter cultural, recreativo ou cerimonial”, diz o documento.
Além da revisão desse conceito considerado ultrapassado, o relatório pede uma melhor classificação e clarificação dos processos de inclusão das drogas nas listas.
“Já não é possível ignorar as consequências negativas das atuais listas internacionais para controle de drogas, que vão desde a escassez de medicamentos essenciais em países de baixo e médio rendimento até à propagação de doenças transmissíveis e lesões, maior mortalidade e a crise global de superlotação dos estabelecimentos prisionais. A comunidade internacional deve enfrentar estes desafios, medindo e corrigindo as consequências negativas da classificação feita com base nas atuais listas”, pede o texto.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters