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Para 94% da população brasileira, negros têm mais chance de ser mortos pela polícia

Brasileiros também afirmam que população negra tem poucas chances de conseguir emprego formal

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São Paulo

Nove em cada dez brasileiros reconhecem que pessoas negras têm mais chance de ser mortos pela polícia e menos de conseguir emprego, de acordo com a pesquisa Faces do Racismo.

Para 94% da população, pretos e pardos têm mais chance do que brancos de ser abordados de forma violenta ou ser mortos pela polícia. Para 91%, pessoas negras também têm menos chance de conseguir um emprego formal.

Os dados integram a pesquisa feita em conjunto pela Cufa (Central Única das Favelas), Instituto Locomotiva e Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).

O levantamento foi feito nos dias 4 e 5 de junho com 3.100 pessoas, de 16 a 69 anos, que residem em todos os estados brasileiros.

“Uma coisa é a gente falar sobre o nosso sentimento em relação ao racismo. Outra é falar sobre o que é o racismo. Esses dados mostram uma fotografia bastante precisa que se aproxima do nosso sentimento sobre o racismo no Brasil”, disse Celso Athayde, fundador da Cufa.

Athayde destacou que, apesar de a população reconhecer a forte presença do racismo, ela ainda não identifica o seu papel na discriminação. Para 18% dos entrevistados, ”não há problema em fazer piadas sobre pessoas negras” e 58% afirmam que o “politicamente correto está deixando o mundo chato”.

“Os dados mostram que o brasileiro reconhece e enxerga o racismo, a desigualdade, o preconceito, mas não percebe o impacto disso. Não discute, não analisa o impacto disso na nossa sociedade”, disse Athayde.

Além de medir a percepção sobre o racismo, a pesquisa também traz números sobre as diferenças econômicas e oportunidades de estudo e emprego. O estudo mostrou que negros ocupam posições mais precárias no mercado de trabalho.

Enquanto 38% dos brancos estão empregados no setor privado com carteira de trabalho, na população negra essa taxa é de 34%. Os brancos também são maioria entre os empregadores: 7% contra 3% dos negros.

Já entre os que trabalham sem carteira assinada, os negros são maioria: 14% contra 10% na população branca. Os negros também são a maioria entre os trabalhadores domésticos: 8% ante 5% de brancos.

Além disso, apesar de a maioria dos entrevistados (66%) dizer ter chefes brancos, apenas 46% da população reconhece ter pouca ou nenhuma diversidade em seu ambiente de trabalho.

A pesquisa também mostra que os trabalhadores brancos ganham em média 76% mais do que os negros. No país, a média salarial dos brancos é de R$ 3.100, enquanto a dos negros é de R$ 1.764.

Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, o levantamento mostra a naturalização do racismo no Brasil, já que os entrevistados reconhecem a diferença de oportunidades. “Ainda que reconheçam que os negros têm mais risco de sofrerem violência e têm menos oportunidade, há 53% de pessoas que afirmam existir racismo contra brancos."

A pesquisa também mostra que 7% acredita que o combate ao racismo é uma luta apenas dos negros e 38% disse acreditar que o racismo está “apenas em algumas pessoas”. Entre os entrevistados, há ainda 7% que diz “não haver racismo no Brasil” e 8% que acredita que a "mistura de raças é uma das principais causas dos problemas” do país.

“Esses dados mostram que, ainda que reconheça o racismo e enxergue as suas consequências, as pessoas não sabem a origem dele”, disse Meirelles.

Ele destacou ainda que os negros são a maioria da população no país. Pretos e pardos somam 118 milhões de pessoas, o que representa 56% dos brasileiros.

Ainda assim, brasileiros negros pertencem em sua maioria às classes sociais mais vulneráveis. As classes D e E são formadas por 74% de pessoas negras e 26% de brancos. A proporção se inverte nas classes A e B, formadas por 37% de negros e 63% de brancos. “Esses dados comprovam que o preconceito no Brasil não é de classe”, disse Meirelles.

A população negra também tem menos acesso ao ensino. Entre pessoas com mais de 25 anos, os que tiveram acesso ao ensino superior, 11% são negros e 25%, brancos.

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