Siga a folha

Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Há visivelmente mais crianças nas ruas do Rio, diz professora da PUC

Até outubro, Secretaria de Assistência Social abordou 630 menores trabalhando

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Rio de Janeiro

Em Botafogo, zona sul do Rio, um menino caminha com uma caixa de doces na mão e tenta vendê-los para quem passa. Situação parecida se dá no outro lado da rua, onde um jovem oferta biscoitos e diz que quer comprar comida para a irmã pequena.

Em Copacabana, em frente a uma loja de doce, um adolescente pede a quem passa que o ajude a comprar uma caixa de paçoca para poder trabalhar. Enquanto isso, a alguns metros dali, duas crianças dormem embaixo da marquise de uma loja.

Com o aumento da fome e da pobreza, cenas como essas se tornam cada vez mais comuns na capital fluminense. "Há visivelmente um aumento de crianças e de adolescentes nas ruas", diz Irene Rizzini, professora da PUC-Rio e diretora-presidente do Ciespi (Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância), grupo associado à PUC.

Especialistas dizem que número de crianças em situação de rua no Rio aumentou com a pandemia - Zanone Fraissat - 11.set.19/Folhapress

Ela afirma que, antes da pandemia, a faixa etária desses jovens variava entre 14 e 17 anos. Com a crise sanitária, esse perfil mudou. "Vamos encontrar crianças pequeninas, ainda na primeira infância."

Rizzini diz que a perda de renda gerada pela pandemia empurrou jovens para a rua e que o contexto político contribui para agravar o fenômeno. "Ministros e o próprio presidente já expressaram discursos contrários ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e já tiveram posturas antagônicas aos direitos dessa população."

No final do ano passado, Bolsonaro publicou um decreto recriando o Conaeti (Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil), que ele extinguira em 2019, mas esvaziou o órgão. A medida excluiu a participação de entidades nacionais, internacionais e da sociedade civil.

A Constituição proíbe trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, e a trabalho perigoso ou insalubre a menores de 18 anos.

"Temos uma situação muito adversa que vem fazendo com que o aumento de jovens nas ruas seja visível, embora não haja pesquisas censitárias sobre isso", diz a professora. "É muito difícil estabelecer programas quando não se tem um dimensionamento real da situação."

Secretaria de Assistência Social do Rio, Laura Carneiro atribuiu a dificuldade para reunir dados ao processo de deslocamento dessas pessoas. "É uma população que não fica no mesmo lugar. Não são apenas as crianças, mas a população em situação de rua como um todo. Por isso, é sempre muito mais difícil", afirma.

Os dados de que a secretaria dispõe mostram que, de janeiro a outubro deste ano, cerca de 1.200 jovens foram abordados em situação de rua, dos quais 630, ou seja 52%, desempenhavam alguma forma de trabalho infantil.

Diante do aumento da pobreza, essa população acaba se sentindo responsável pelo sustento da família, diz a secretária. "Já fiz algumas ações de trabalho infantil e as crianças diziam: ‘Eu estou ajudando a minha mãe. Ela não pediu. Eu que quis.’ E a gente estava falando, às vezes, de crianças de 6 ou 7 anos."

Carneiro afirma que a secretaria conta com um grupo de profissionais treinados para atender esses jovens. "Quando a criança está sem pai e sem mãe, chamamos o conselho tutelar. O juiz manda a gente acolher e a gente encaminha a uma das nossas 14 unidades."

O Rio é apenas um dos locais em que essas cenas são vistas, segundo Manoel Torquato, coordenador da Rede Nacional Criança Não é de Rua.

"O fenômeno é observado em todo o país, sobretudo das grandes e médias cidades", diz ele. "O Brasil não tem dados oficiais sobre esse tema, mas a percepção dos profissionais que trabalham nas ruas é unânime sobre o aumento."

De acordo com Torquato, as garantias do ECA não chegam de forma plena aos jovens que estão na rua.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas