Descrição de chapéu oriente médio

Queda de helicóptero mata presidente do Irã e põe país sob incerteza política

Teerã cita falha técnica de aeronave em que também estavam chanceler e outros seis tripulantes; Ebrahim Raisi era cotado para substituir líder supremo

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São Paulo

O Irã confirmou na madrugada desta segunda-feira (20) a morte do presidente Ebrahim Raisi e de sua comitiva, incluindo o chanceler Hossein Amirabdollahian. Eles e outras seis pessoas estavam em um helicóptero que caiu em uma área montanhosa e de difícil acesso perto da fronteira com o Azerbaijão, após visita a uma barragem. Segundo a agência estatal Irna, sem dar detalhes, houve uma "falha técnica" do modelo Bell 212, e as condições do tempo eram ruins, com chuva e muita nebulosidade.

A morte de Raisi foi confirmada em comunicado divulgado nas redes sociais pelo vice-presidente Mohsen Mansouri e também na televisão estatal. "Anuncio cinco dias de luto público e ofereço minhas condolências ao querido povo do Irã", disse Ali Khamenei, líder supremo do país, de quem Raisi era cotado para ser sucessor.

Um homem sentado atrás de uma grande mesa de conferência parece estar em uma discussão séria ou fazendo uma chamada telefônica. Ele está em uma sala com decoração institucional, incluindo um emblema do Irã e escrita persa na parede ao fundo. À sua frente, há dois monitores de computador, documentos e uma fotografia emoldurada.
O primeiro vice-presidente do Irã, Mohammad Mokhber, anuncia a morte do presidente Ebrahim Raisi (no retrato), sentado ao lado de sua cadeira vazia com uma faixa preta, no Teerã - Presidência Iraniana/AFP

O funeral começará nesta terça-feira (21), e Raisi será sepultado em sua cidade natal, Mashhad, no nordeste do Irã.

O aiatolá, que tem a palavra final sobre a política externa e o programa nuclear do Irã, disse que o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, vai assumir como presidente interino. Novas eleições presidenciais foram marcadas para o dia 28 de junho.

A localização e o mau tempo dificultaram a operação de resgate. Imagens da televisão estatal mostraram destroços espalhados em uma encosta sob neblina. As equipes de busca enfrentaram uma nevasca para chegar aos destroços da aeronave nas primeiras horas desta segunda-feira, próximo à cidade de Jolfa, a cerca de 600 quilômetros de Teerã.

"Com a descoberta do local do acidente, nenhum sinal de vida foi detectado entre os passageiros do helicóptero", disse o chefe do Crescente Vermelho iraniano, Pirhossein Kolivand, à TV estatal. Anteriormente, a emissora nacional havia interrompido toda a programação normal para transmitir as buscas.

No domingo, o Ministério do Interior iraniano chegou a afirmar que a aeronave havia feito um "pouso difícil". A mídia estatal disse que o helicóptero havia sido localizado, mas o Crescente Vermelho negou.

Três helicópteros transportavam a comitiva presidencial. Dois deles aterrissaram sem problemas em Tabriz, noroeste do Irã, menos o que transportava Raisi. Ele havia viajado para inaugurar uma barragem ao lado de seu homólogo azeri, Ilham Aliev.

O ministro dos Transportes da vizinha Turquia, Abdulkadir Uraloglu, afirmou horas após a queda que as autoridades aeronáuticas não detectaram nenhuma transmissão de sinal por parte da aeronave. A condição do helicóptero, um obsoleto Bell 212, reflete os efeitos de décadas de sanções dos Estados Unidos e de outros países contra o Irã, que enfrenta dificuldades para obter peças ou atualizar seus veículos.

Não é possível, a esta altura, colocar o ocorrido na conta do estado de manutenção do Bell 212. Mas um modelo mais moderno, com sensores avançados, talvez pudesse ter evitado com que a aeronave fosse de encontro ao nevoeiro, o que teria possibilitado ao piloto uma noção mais clara do terreno à frente.

Por que Raisi ainda voava com o antigo Bell 212 continua sendo um mistério. O país tem um acordo de cooperação militar com Vladimir Putin que fornecerá, entre outras coisas, helicópteros de ataque russos —nada impediria a venda de algum modelo de transporte adaptado para serviço VIP.

TV estatal do Irã divulga foto do presidente, Ebrahim Raisi, após sua morte - IRINN - 19.mai.2024/via AFP

A procura por Raisi foi acompanhada com tensão pela comunidade internacional, dada a relevância do Irã no Oriente Médio, região abalada pelo conflito entre Israel e o Hamas, um aliado de Teerã. Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes e Kuwait ofereceram ajuda nas buscas, assim como Síria e Iraque. A Turquia enviou 32 socorristas e seis veículos, e o Hamas expressou "total solidariedade" ao Irã.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse em comunicado que o governo americano expressava "condolências oficiais" pela morte de Raisi, mas deixou claro que Washington manterá a linha crítica a Teerã. "Reafirmamos nosso apoio ao povo iraniano e à sua luta pelos direitos humanos e liberdades fundamentais."

Já a Casa Branca disse nesta segunda que Raisi "era um homem que tinha muito sangue nas mãos". Até a noite desta segunda, nem o secretário de Estado, Antony Blinken, nem o presidente Joe Biden tinham se manifestado sobre o ocorrido.

Outro inimigo de Teerã, Israel também não havia se pronunciado, seja por sua chancelaria ou pelo gabinete do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou pesar e "condolências aos familiares de todas as vítimas, ao governo e ao povo iraniano".

Acusado de ter ordenado a execução de milhares de dissidentes nos anos 1980, quando integrou o chamado "comitê da morte" como subprocurador geral de Teerã, Raisi foi responsável por agravar a instabilidade política e econômica do país desde a sua eleição em 2021. Ele sucedeu o moderado Hassan Rouhani, que o havia derrotado nas eleições presidenciais de 2017 e, após dois mandatos consecutivos, não pôde concorrer novamente.

A morte de Raisi aumenta a incerteza em relação ao futuro do país. A substituição do líder supremo, Ali Khamenei, de 85 anos e saúde frágil, é uma das grandes preocupações imediatas, e o presidente era um nome forte para sucedê-lo.

Em comunicado, o líder supremo afirmou que o episódio não vai impactar a república islâmica. "Garantimos à nação leal que, com a ajuda de Deus e o apoio do povo, não haverá a menor perturbação na administração do país."

A morte do presidente foi recebida com luto contido e celebração disfarçada em um Irã dividido. Mesquitas e praças ficaram lotadas de pessoas leais ao regime que oraram por Raisi. Ao mesmo tempo, opositores publicaram na internet vídeos de pessoas distribuindo doces supostamente para celebrar o ocorrido.

Laila, uma estudante de 21 anos em Teerã, disse à agência de notícias Reuters que não estava triste com a morte de Raisi "porque ele ordenou a repressão às mulheres devido ao hijab [véu islâmico]". "Mas estou triste porque, mesmo com a morte de Raisi, o regime não mudará", afirmou ela.

Em 2022 e em 2023, Raisi foi alvo de protestos que ocorreram em todo o país motivados pela morte de Mahsa Amini, 22, sob custódia policial, acusada de não vestir o véu islâmico da maneira exigida pelas autoridades religiosas. Centenas de pessoas foram mortas em confronto com a polícia, segundo organizações que atuam com direitos humanos.

Com Reuters e AFP

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