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Celulares roubados contam com ajuda do PCC para chegar ao exterior, aponta inteligência da PM

Conforme Ministério Público, lojas na rua Santa Ifigênia participam de esquema de desmontagem de peças de telefones tomados por ladrões

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São Paulo

Os celulares roubados na cidade de São Paulo e que chegam até o centro da capital, em especial a região da cracolândia, teriam ajuda da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) no envio para o exterior, mais precisamente os países africanos, conforme monitoramento da inteligência da Polícia Militar.

Os membros da organização criminosa não estariam envolvidos diretamente nos roubos, mas na operacionalização, como forma de obtenção de lucros, segundo disse para a Folha o coronel Pedro Luís Souza Lopes, comandante do Centro de Inteligência da Polícia Militar.

Policial civil arromba porta de comércio rua dos Guaianases, no centro de São Paulo, em busca de celulares roubados ou furtados - Folhapress

Atualmente, o PCC tem o tráfico como sua principal fonte de renda. "O monitoramento da polícia indicou que a facção pode patrocinar os roubos e outros delitos patrimoniais, que garantiriam rentabilidade alternativa", disse Lopes.

Na última quinta-feira (15) o coronel participou de uma mesa no 18º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado no Recife, em que falou sobre o enfrentamento aos roubos e furtos de celulares. Na visão dele, apenas o uso intensivo da tecnologia pode ajudar a combater os crimes que atacam a população do centro a periferia. Em outra ponta a Folha mostrou que muitos celulares têm como destino favelas controladas pelo PCC.

Números da SSP (Secretaria da Segurança Pública) mostram que, de janeiro a maio deste ano, 58.709 aparelhos foram roubados ou furtados na cidade. No mesmo período de 2023 haviam sido 77.448.

"A lógica das grandes cidades sempre foi de o crime patrimonial não tocar as periferias. O roubo de celular mudou completamente isso. O crime patrimonial violento acontece em toda a cidade."

"Como é que eu vou priorizar modalidades de policiamento que têm o crime violento como seu mote principal se ele está disperso em toda uma cidade gigantesca de 12 milhões de habitantes? A gente tem que investir na tecnologia", acrescentou Lopes.

Uma delegada que já participou de investigações no âmbito dos celulares que chegam até a região central disse que os aparelhos deixam o país rumo aos países africanos prontos para o uso, ou seja, inteiros e desbloqueados.

Paralelamente ao monitoramento da PM, uma investigação tocada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público paulista, aponta que uma parte dos aparelhos furtados ou roubados que permanecem no país vai parar em lojas na rua Santa Ifigênia, especializada em comércio de eletrônicos, compondo um ecossistema imposto pelo PCC naquela região.

Alguns dos telefones despejados na Santa Ifigênia passam pelas mãos de técnicos especializados em remover peça por peça do aparelho, assim, eles são vendidos ao gosto do cliente. A informação consta em uma denúncia da Promotoria a qual a reportagem teve acesso contra suspeitos de integrarem o PCC na região da cracolândia e da favela do Moinho.

De acordo com os investigadores, alguns aparelhos roubados e furtados são comercializados abertamente em feiras clandestinas nos bairros da periferia e no centro.

Conforme as investigações do Gaeco, os aparelhos ou peças que chegam até a rua Santa Ifigênia podem ser vendidos em lojas físicas ou através de páginas na internet mantidas pelos suspeitos.

Policiais civis, militares e membros do Ministério Público têm dito que o roubo de celular possui semelhança ao de carro, com criminosos exercendo diversas funções: o roubador, o receptador, o técnico em desmontagem, a logística da venda de partes e peças e a comercialização, realizada por uma pessoa jurídica.

As ações em campo do Gaeco indicam que os receptadores pagam de R$ 200 a R$ 500 reais para cada produto ilícito.

Segundo a denúncia, por meio da receptação de celulares e desmanche de suas partes é possível montar um aparelho com peças originais e em estado intacto de conservação por R$ 1.500, quando um aparelho novo, do mesmo modelo, custaria por volta de R$ 5.000. Para o Ministério Público, essa seria uma das formas mais atrativas de geração de lucro para os membros da facção criminosa, que também se dedicariam à lavagem de dinheiro.

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