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Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Moradores de Porto Alegre ensaiam retorno à orla do Guaíba em meio a marcas da tragédia

Interdição de quadras de areia e ausência de bares e restaurantes interferem na volta dos frequentadores

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Porto Alegre

Uma das áreas mais atingidas pelas enchentes que destruíram Porto Alegre há quatro meses, a orla do lago Guaíba aos poucos tem retomado suas atividades —funcionando como uma espécie de símbolo da retomada da cidade.

Apesar disso, grande parte da região ainda guarda marcas da tragédia, com locais fechados, rastros de lama de até 2 metros de altura e espaços fechados para o público a espera de reformas. Bares e quadras de areia, por exemplo, seguem proibidos, mas já é possível usar academia, andar de skate e jogar futebol em alguns trechos.

A reabertura dessas áreas de lazer na orla atrai frequentadores que retomam suas rotinas de exercícios, passeios, tomam chimarrão e assistem o pôr do sol no espaço, um dos mais tradicionais da capital do Rio Grande do Sul.

Pista de skate foi liberada após higienização e recuperação de ponto de erosão de areia - Folhapress

"A recuperação não pôde acontecer no prazo que gostaríamos", diz Ana Paula Bastos, titular da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude), responsável pela gestão do parque esportivo no trecho 3 da orla. "Embora as águas tenham baixado, a gente ainda sofreu por um bom tempo com a chuva que atrapalhou recolocação de areia em playgrounds e academias."

A primeira ação após o recuo do Guaíba foi recompor a areia erodida ao lado das arquibancadas e das pistas de skate para evitar riscos estruturais.

O custo para recuperar quadras, brinquedos e outros equipamentos esportivos do trecho 3 é de R$ 270 mil, entre recursos públicos e contrapartidas.

Apenas 11 das 29 quadras esportivas da orla foram reabertas: três de grama sintética para futebol society, quatro infantis e quatro adultas de concreto —uma poliesportiva e outras para basquete, tênis e patins. As duas academias públicas e dois playgrounds do trecho já estão liberadas.

O principal desafio é a recuperação das quadras de areia, que representam 16 das 18 ainda fechadas.

As quadras já tinham sido interditadas em setembro do ano passado após uma enchente anterior. Um laudo apontou então a presença de concentrações acima do aceitável de coliformes fecais e parasitas. Após um longo trabalho, o local foi reaberto em março. Menos de dois meses depois, vieram as novas chuvas e um novo fechamento, que ainda não tem data para ser resolvido. .

Vista aérea do trecho 3 da orla do Guaíba; 18 quadras esportivas seguem fechadas, sendo 16 de areia - Folhapress

"A gente vinha acompanhando a evolução do conserto, da colocação das redes da marcação no chão", lembra o advogado Diego Escobar, 39. "A expectativa era grande, a gente voltou e ficou dois meses no máximo com as quadras e aí veio de novo."

Segundo ele, há ao menos 300 praticantes de beach tennis na orla organizados esperando a reabertura. "Criou-se essa nova expectativa, o pessoal tem perguntado como é que está", conta. Uma das maiores preocupações dos frequentadores é se a areia voltou a ficar contaminada. A secretaria diz que o material foi encaminhado para análise laboratorial, e o resultado deve ser divulgado nos próximos dias.

Diego passou a dar aulas em clubes, mas sente falta de praticar na orla. "Não existe nenhum lugar com aquele ambiente".

A secretaria Ana Paula nota o desejo de retorno. "Ainda que a gente não tenha devolvido na plenitude com as canchas de areia, é só dar um calor ou um dia sem chuva e a população está toda na orla. A cidade voltou a respirar novamente", diz.

Por isso, pede colaboração do público para preservar os trabalhos nas áreas interditadas. "Frequentemente a gente recoloca as fitas de segurança, mas arrancam. Tem segurança privada no local que orienta pessoas, mas nos fins de semana a gente chega a ter 20, 30 mil pessoas circulando"

Quase todos os bares e estabelecimentos na orla ficaram sob 1,5 metro ou mais de água - Folhapress

Outros equipamentos já estão de volta após higienização e correções simples. O complexo do skate park foi liberado após a contenção da erosão e o escoamento da água que subiu pelo ralo de uma das pistas.

"A gente ficou mais de 45 dias sem poder fazer nada", diz a instrutora e skatista Josiane Mores. Voluntária no projeto Orla Social, ela dá aulas gratuitas para crianças na orla.

O movimento nas pistas "está devagar", diz Josiane. "As pessoas até vão fazer a prática do skate, mas a gente não consegue fazer aquela parte do socializar".

"Eu tinha três alunas adultas, e a gente tinha o hábito de sempre depois da aula, ir em um bar que tinha ali e tomar um suco natural. O bar até agora não voltou."

Os danos foram mais extensos no trecho 1, que vai da Usina do Gasômetro até a lateral do parque que sedia o Acampamento Farroupilha.

A movimentação de barcos e jetskis por mais de um mês transformou a área em um píer emergencial, com espaço de acolhimento aos resgatados e hospital veterinário feito por voluntários. Quando a água baixou, o que restou foi uma área de lazer arrasada.

A maior parte da limpeza já foi feita, mas quem caminha pelo trajeto chamado caminho da orla pode ver troncos e galhos acumulados. Quase todos os restaurantes estão fechados, mas alguns quiosques destapados ainda têm acúmulo de lama, misturada com utensílios de cozinha e lixo.

A estimativa é que o valor das obras no trecho 1 cheguem a R$ 20 milhões Os trabalhos devem começar em setembro.

O coordenador do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática de Porto Alegre, Germano Bremm, tem esperança que a atividade na orla seja retomada em breve. "É consagrada aquela região da cidade como um cartão postal, tem uma procura muito grande, especialmente aos finais de semana", diz. "Existe espaço, consumo, mercado".

Bremm diz que a prefeitura elabora um plano de contingência e um sistema de alerta, que permita uma comunicação preventiva com quem exerce atividades na orla.

Ele também fala que é preciso pensar uma estratégia específica para áreas nas imediações da beira, fora do sistema de proteção de enchentes. É o caso do parque da orla e de espaços vizinhos.

"É natural que vá, em algum momento de cheia, elevar o nível do Guaíba e eventualmente acertar aquele território [da orla], então não pode ser uma surpresa", diz Bremm. "É uma relação com as águas que a gente vai ter que saber administrar."

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