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Daniel Guanaes

Dez sugestões para ajudar familiares de quem se suicida

Suicídios nos deixam sem saber o que pensar e como agir quando acontecem

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Daniel Guanaes

PhD em teologia pela Universidade de Aberdeen, é pastor presbiteriano, psicólogo e líder do movimento Pastores pela Vida (Visão Mundial)

Era uma manhã de segunda-feira quando a secretária da igreja me encaminhou uma ligação de urgência. Era Pedro, um advogado que frequentava a nossa congregação. Desesperado, ele gritava o nome da sua esposa. Mariana tinha tirado a própria vida depois de lutar contra uma depressão por 15 anos.

Infelizmente, esses episódios acontecem com mais frequência do que muitas pessoas imaginam. Um estudo da Cidacs/Fiocruz Bahia, publicado em março de 2024, avaliou os índices de suicídio no Brasil. No período entre 2011 e 2022 houve um aumento médio de 3,7% ao ano. Também houve crescimento de 21% nos índices de autolesão.

Suicídios nos deixam sem saber o que pensar e como agir quando acontecem. É difícil avaliar o que dizer (e o que não dizer) a uma pessoa que perdeu um ente querido nessas condições. Compartilho, então, aquilo que vem funcionando para mim que, há 20 anos, enfrento situações assim por conta do meu trabalho.

  1. Antes de qualquer coisa, lamente o ocorrido. Expressões como "meus sentimentos" ou "eu sinto muito" têm o poder de um abraço. Elas estabelecem um grau de empatia e acolhimento a quem está sofrendo.

  2. Não diga que você sabe o que aquela pessoa está passando. Só ela sabe, já que cada experiência é única e até certo ponto rara. Prefira perguntar como ela está, ou dizer "eu só posso imaginar o que isso significa".

  3. Não faça perguntas sobre o que aconteceu. Cada relato é uma reedição da tragédia, e nem sempre o familiar está disposto a experimentar tamanha carga emocional naquele momento. Se a pessoa quiser, ela falará.

  4. Pergunte se você pode ajudar e como você pode ajudar. Deixar a pessoa que sofre conduzir esse processo é mais eficaz. Ela sabe mais do que você os caminhos que deseja percorrer.

  5. De maneira delicada, encoraje a pessoa a expressar os seus sentimentos e as suas necessidades. O protagonismo da fala é de quem sofre. Deixe que ela desabafe pelo tempo que for necessário.

  6. Não diga nada, se não souber o que dizer. Você não precisa ter algo para falar. Muitas vezes não há mesmo o que ser dito, e a companhia, o choro ou o abraço comunicam mais do que as palavras.

  7. Não julgue o que aconteceu, nem busque um culpado. Quando um suicídio acontece, os familiares tendem a pensar "o que eu fiz (ou não fiz) para isso acontecer?" ou "E se eu tivesse percebido antes?". Por isso, conversar sobre o que levou àquela tragédia ou emitir um julgamento sobre ela aumenta a chance de um familiar se responsabilizar pelo ato.

  8. Não diga que aquilo vai passar logo. Discursos desse tipo são fantasiosos, e não dão conta da realidade. Ninguém sabe a duração de um luto. Às vezes é um processo que tem a duração de uma vida.

  9. Não justifique o ato com uma explicação religiosa. Dizer que "Deus quis assim" ou que "Deus sabe das coisas" soa fatalista e aumenta a dor de quem sofre. O elemento da religião que mais auxilia nesse processo é a solidariedade.

  10. Forneça informações sobre recursos de apoio. A iniciativa Posvenção do Suicídio oferece uma plataforma que indica grupos de apoios espalhadas pelo Brasil. Esses espaços permitem a troca de experiências com pessoas que vivenciaram situações semelhantes, e oferecem instrução e conforto.

Conversar sobre suicídio é importante, mas requer cuidado. Por isso, compartilhe esse artigo com pessoas que podem se beneficiar com essas informações. E, caso você enfrente dilemas nessa área e precise de ajuda, recorra ao Centro de Valorização da Vida (CVV). Desde 1962 eles oferecem atendimento gratuito a quem quer conversar sobre suicídio. Basta telefonar para 188.

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