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Escolas estudam congelar valores de mensalidades para evitar evasão

Sindicato do setor sugere que em 2021 seja feito apenas o repasse da inflação, entre 2,5% e 3%

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Lisandra Matias
São Paulo

A pandemia deve segurar o aumento das mensalidades nas escolas particulares em 2021. Em um cenário de crise e perda de alunos, a expectativa é que os colégios ajam com cautela.

A dentista Marlene Souza Santos, 57, com seu filho Rafael, 16, na casa em que vivem, em São Paulo  - Jardiel Carvalho/Folhapress


A maioria deles não tem um valor fechado, mas alguns consideram manter os preços de 2020. E, daqui até o fim do ano, seguem negociando prazos e formas de pagamento.

“Imaginamos, no máximo, repassar a inflação, que deve ficar entre 2,5% e 3%, calculada a partir da média de uma cesta de índices que considera INPC (IBGE), IPC (Fipe) e ICV (Dieese)”, afirma Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo).

As instituições devem aumentar só o estritamente necessário, mas aí entra o livre arbítrio de cada uma, que conhece sua clientela e sabe o que pode fazer ou não.”

Por outro lado, a escola não pode trabalhar com déficit financeiro. “Não existe boa escola, com capacidade pedagógica, se houver prejuízo.”

Segundo ele, a orientação do sindicato é que os colégios negociem com as famílias de alguma forma, por exemplo, aumentando o número de parcelas e deixando débitos para serem acertados só depois da pandemia.

Segundo pesquisa feita em agosto com 386 escolas, o reajuste pretendido é de 3,5% a 5,5%. O estudo foi feito pelo Grupo Rabbit, que presta consultoria em gestão para 1.480 estabelecimentos privados de educação básica no país —cerca de 800 em São Paulo.

A consultoria recomenda, no entanto, que o acréscimo seja de 5% a 8% para minimizar o incremento de custos decorrentes da retomada.

“O aumento é menor em relação aos anos anteriores, mas é preciso deixar claro para os pais que isso não vai cobrir as despesas. As escolas vão ter prejuízo. Mas não dá para subir mais, porque correm o risco de perder os alunos”, afirma Christian Coelho, diretor-executivo do Grupo Rabbit.

O colégio Santa Maria, no Jardim Taquaral, que fica na zona sul de São Paulo, já definiu que o aumento em 2021 será entre 3% e 4%.

“É menos do que o necessário para cobrir as despesas, por isso já entramos na poupança emergencial. Também cortamos serviços não essenciais, que não afetam a parte pedagógica”, diz a diretora, Diane Clay Cundiff.

De acordo com ela, durante a pandemia e até o final do ano, o colégio deu descontos variados, de 12% a 50%, a pais de mais de 600 dos 2.263 alunos. A taxa de matrícula, equivalente a 50% de uma mensalidade, foi reduzida para 25% no ano que vem.

Na escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, no Itaim Bibi (zona sul), o desconto médio na mensalidade durante a pandemia foi em torno de 15%, e cerca de 220 das 600 famílias foram beneficiadas.

Segundo Wagner Cafagni Borja, diretor do Gracinha, o aumento para o ano que vem ainda não está definido.

“Estamos tentando fechar o cenário e entender o que será 2021, pois as coisas ainda estão muito vagas. Nossa ideia seria a manutenção dos valores de 2020. Estamos perseguindo esse ideal, mas isso ainda não está certo.”

Já as mensalidades do colégio Novo Pátio, em Santana (zona norte), não terão aumento em 2021, garante a diretora-geral, Marlene Desidério. Ela explica que a escola não deu desconto, porque tem uma política de bolsa que considera critérios de desempenho e socioeconômicos.


“Mas abrimos diálogo e negociamos com todos que nos procuraram e comprovaram a necessidade, por meio de extensão de prazos e parcelamentos. Cerca de 20% das famílias fizeram requisições.”

Nos colégios Agostiniano Mendel, no Tatuapé, e Agostiniano São José, com unidades na Chácara Tatuapé e Belenzinho (zona leste), os valores da mensalidade para 2021 também não estão definidos.

A ideia é não extrapolar a média adotada nos últimos anos, que variou entre 7% e 10%, diz Eduardo Flauzino, diretor-geral dos estabelecimentos e vice-presidente da Sociedade Agostiniana de Educação e Assistência (Saea).

Ele conta que a Saea concedeu desconto médio de 30% a todas as famílias durante a pandemia e parcelamento da mensalidade de abril.

Segundo Flauzino, os descontos começaram em maio e estavam previstos, inicialmente, até setembro. “Isso é o que planejamos, considerando o cenário que avaliamos há alguns meses. Mas seguimos acompanhando o impacto da pandemia e estamos recebendo aqueles com mais dificuldades e tratando caso a caso.”

Flauzino também destaca a criação do boleto solidário. “Muitos não foram impactadas economicamente pela pandemia e alguns estão doando seus descontos para um fundo, que beneficia outras famílias com maior dificuldade financeira”, afirma. A prática tem ocorrido também em outras instituições.

Silva, do Sieeesp, avalia que a escola particular está passando pela pior crise dos últimos 70 anos. “Eu vivo dentro de um colégio há mais de 50 anos e nunca vi uma situação tão difícil como essa.”

O sindicato estima que 30% a 40% das escolas de educação infantil, que atendem a faixa etária de 0 a 3 anos e 11 meses, não voltem e que ocorra uma evasão de 3% a 4% dos alunos de 4 a 17 anos, que devem migrar para a rede pública.

Mas ele também vê um aspecto positivo na crise. “Conseguimos mudar o paradigma que existia entre as escolas particulares e as famílias de não conversarem. A escola tem que dialogar com as famílias e entender esse momento de dificuldade”, diz Silva.

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