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Times do Clássico do Veneno vivem situações opostas no Paranaense

Rivais que carregam nome da cidade de Cascavel foram pivôs de disputas judiciais no torneio

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São Paulo

Dois times de Cascavel (a 500 km de Curitiba) disputam o Campeonato Paranaense. Mas, além do nome e da localização geográfica, FC Cascavel e Cascavel CR pouco têm em comum, com administrações, resultados e destinos opostos.

Invicto no estadual, o Futebol Clube Cascavel conta com grupo de acionistas, ações de marketing e oito patrocinadores oficiais, embora seu site liste 17 empresas. Fez o mesmo número de pontos que o líder Operário, mas perdeu seis por ter relacionado um jogador de forma irregular. Punição que a agremiação tenta reverter. Em qualquer situação, o time está classificado para as quartas de final do Paranaense como segundo colocado da primeira fase.

Seu rival de cidade, o Cascavel Clube Recreativo vive à míngua em 2021 e está rebaixado. Herdeiro do Cascavel Esporte Clube, campeão da elite em 1980, a equipe não tem dinheiro, perdeu atletas durante o torneio, levou goleada por 9 a 0, teve o presidente intubado com Covid-19 e pode cair para a terceira divisão por ter falsificado exames de coronavírus.

Quando se enfrentam, os adversários fazem o que é chamado de "Clássico do Veneno". No Paranaense deste ano, empataram em 3 a 3.

Lance da partida entre FC Cascavel e Cascavel CR, pelo Campeonato Paranaense de 2021 - Felipe Fachini-1.abr.21/FC Cascavel

O Cascavel CR (chamado de CCR) correu o risco de sequer entrar em campo neste sábado (15), diante do Maringá, pela última rodada. O TJD-PR (Tribunal de Justiça Desportiva) lhe aplicou na sexta-feira (14) multa de R$ 200 mil e suspendeu as atividades da agremiação por dois anos pela falsificação de três exames de Covid-19 antes de jogo contra o Athletico.

O clube reconhece que os atletas Lapa, Castro e Gabriel Oliveira foram retirados do estádio quando se aqueciam para a partida porque a federação descobriu a falsificação dos testes. Mas alega que a adulteração da data foi feita por um diretor para economizar R$ 500.

"A instituição não pode ser punida assim. São coisas inacreditáveis, que não podem acontecer mais. Foi uma lástima, mas o clube é vítima. A pessoa, sim, pode ser responsabilizada", afirma o presidente, Tony Almeida.

O clube obteve horas depois efeito suspensivo da pena no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Com isso, o confronto foi mantido.

O elenco teve de correr para uma farmácia, à noite, para fazer testes de Covid e disputar a partida. Apesar do esforço, o jogo terminou com mais uma goleada vexatória sofrida pelo time, 9 a 1 para o Maringá.

Ao fim da primeira fase do torneio, o time soma apenas 4 pontos em 11 jogos, e encerra a competição como lanterna.

Mas a situação ainda pode piorar. Se a punição pela falsificação dos exames for confirmada pelo STJD o clube terá de voltar à terceira divisão.

No mesmo tribunal está outro pedido de efeito suspensivo, o do FC Cascavel. A equipe perdeu seis pontos porque diante do Paraná Clube relacionou para o banco de reservas o goleiro João Pedro Fiorentim, 17. O garoto não tinha contrato profissional.

“A presença dele não influenciou em nada. Nós entendemos que a punição é injusta e vamos até o fim para revertê-la”, disse o presidente, Valdinei Silva. Caso isso aconteça, o clube, que ocupa a segunda posição, com 17 pontos, chegaria à mesma pontuação do Operário, líder, com 23, mas perderia nos critérios de desempate.

Fundado em janeiro de 2008 pelo ex-lateral do Barcelona Juliano Beletti (ele depois repassou o CPNJ a outras pessoas), o clube foi semifinalista do estadual em 2020 e ameaça se tornar uma força do interior.

"A diferença está na estrutura que eles construíram. É coisa de time grande", afirma o técnico Tcheco, ex-meia com passagens por Santos e Grêmio.

O FC Cascavel está prestes a inaugurar seu segundo centro de treinamento, a ser utilizado apenas pelas categorias de base, e pleiteia à CBF o certificado de formador. Isso pode render receitas nas negociações futuras de atletas revelados pelo time.

O planejamento vai além do estadual, segundo o presidente. A estratégia, definida em 2016, é de longo prazo. O ideal é chegar à Série B do Brasileiro até 2027. O planejamento vai além do estadual, segundo o seu presidente. A estratégia, definida em 2016, é de longo prazo. O ideal é chegar à Série B do Brasileiro até 2027.

"Se vencermos o Paranaense agora, será a cereja do bolo. Queremos chegar à Série B. Quando isso acontecer, teremos time e estrutura para ganhar o Paranaense todo ano. Lá na frente, vamos cansar de ganhar", diz Valdinei Silva. O espelho é o projeto de ascensão da Chapecoense na década passada.

O projeto tem 110 pessoas envolvidas. Todas contribuem para uma empresa de investimento chamada Pódio. Esta aplica o dinheiro no FC Cascavel. Por enquanto, o dirigente afirma que o retorno financeiro do investimento tem sido aplicado em projetos sociais na comunidade. Mas ele descarta a necessidade de qualquer ajuda. Nem gosta de usar essa palavra.

"Quem precisa de ajuda é a APAE [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais]. A gente faz negócio", completa.

Com cerca de 80 placas de publicidade vendidas no estádio, oito patrocinadores (um deles a Havan, que acabou de fechar acordo com o Flamengo) e R$ 250 mil do contrato de televisionamento com o SBT, Silva afirma que o orçamento do FC Cascavel é de R$ 3 milhões.

São R$ 2,75 milhões a mais que o rival de cidade.

"Temos 99% da torcida em Cascavel. Por três anos consecutivos, quando havia torcedores nos estaduais, tivemos a melhor média de público do interior do Paraná. Eles são há três anos a pior média de público do interior", lembra o presidente.

"Eles" são o Cascavel CR. Para Tony Almeida, a diferença é que o seu clube depende de abnegados e vive em um sistema que tem como finalidade enriquecer a federação. O FC Cascavel, segundo o cartola do outro time do município, conta com apoios poderosos, de políticos e bancos.

"Eles têm um deputado federal que mexe os pauzinhos em Brasília, consegue uma coisa ou outra. Conseguiu uma vez verba de Itaipu [a hidrelétrica] por meio de políticos. Nós aqui não temos nada. Possuímos alguns ônibus para viagens e a ajuda, quando a coisa aperta, de um empresário da cidade. O resto é na raça", afirma Almeida.

Apesar de reconhecer o abismo financeiro, ele afirma que o ano é atípico. O mandatário do CCR ficou afastado por quase 50 dias após ser infectado pela Covid-19. Passou 22 dias intubado. Na última quarta-feira (12), o time levou goleada de 9 a 0 do Operário depois de romper com empresário que havia levado vários atletas para o elenco.

"Mesmo na pandemia, nós tivemos R$ 16 mil de lucro. Nós não somos um clube de futebol, somos uma empresa de marketing", se gaba o rival, Valdinei Silva.

Não faltam ideias originais ao FC Cascavel. Os preços das camisas oficiais são R$ 29,90. Foram vendidas 170 mil nos últimos quatro anos e enviadas para mais de mil cidades brasileiras. A do Athletico, um dos dois principais clubes do estado, custa R$ 289,90.

Foi feita campanha em que o clube receberia uniformes de qualquer outra equipe e, em troca, daria desconto de R$ 10 na compra dos usados pelos jogadores do time.

"Recebemos 1.500 camisas. Juntei tudo e mandei para uma instituição de caridade do Paraguai, assim ficam bem longe da gente", brinca Silva.

São dados de fazer inveja para a outra metade do Clássico do Veneno.

"Nós vamos recomeçar e trabalhar para voltar [à elite]. Em Cascavel, nós somos o time de maior tradição", esbraveja Tony Almeida.

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