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Descrição de chapéu

Amor em Dinamite: Roberto personificou o Vasco vencedor

Artilheiro era a cara de um clube vitorioso, face oposta à do tempo presente, de crise econômica e quatro rebaixamentos

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São Paulo

Chove no Rio de Janeiro. Na manhã desta segunda-feira, pais e filhos, vestidos com as cores do Vasco, sobem a pé uma colina no bairro de São Cristóvão, na zona norte da cidade. No alto dela, os torcedores formam uma longa fila, todos abrigados debaixo de guarda-chuvas. Um a um, entram no estádio de São Januário. Morreu Roberto Dinamite, e uma das maiores torcidas do país se despede de seu super-herói.

Roberto Dinamite faz três gols, em 1981, em clássico contra o Fluminense - Eurico Dantas - 27.set.1981/Ag. O Globo

A TV mostra as arquibancadas vazias; a cor vivaz do gramado, craques chorando: Edmundo, Pedrinho, Felipe. As imagens que tenho de São Januário são outras: o vento batendo no rosto, enquanto corria ao lado dos jogadores entrando em campo. O perfume da grama molhada, a arquibancada lotada, nossa linha do horizonte, utopia vitoriosa.

Agora, as crianças se despedem de um atleta que nunca viram jogar. É misterioso o futebol. Logo se abrem duas classes nas torcidas: de um lado, os que viram o atleta em atividade. Do outro, os que só ouviram falar do personagem.

É uma discreta e torta hierarquia. A história do futebol nada seria sem a oralidade. Não vi Dinamite jogar, mas meu pai me ensinou a respeitá-lo como maior jogador da história do clube, noção mais valiosa do que o testemunho.

E, diferentemente do que ocorre em outros times, nunca atleta algum fez sombra à primazia de Dinamite entre os ídolos do Vasco. É incrível que ele ainda seja o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro e do Carioca, com 190 e 284 gols marcados, respectivamente.

São números de um homem obsessivo. Dinamite foi sobretudo um recordista. Entrava em campo determinado a cumprir o objetivo do esporte futebol: marcar gols. Centroavante, não foi quase um Zico, seu amigo e ídolo do Flamengo. Foi Dinamite, que deu ao Vasco o primeiro título brasileiro, em 1974, e tripudiou sobre os adversários em cinco estaduais.

Do Vasco, as imagens mais importantes de fato não testemunhei. Na maioria delas, Dinamite foi protagonista. Tanto mais naquele gol de placa contra o Botafogo, em 1976. Zanata cruza a bola para Dinamite, que dá um chapéu no zagueiro e afunda a rede adversária. Aos olhos do Maracanã, o atacante corre desbaratado, comemorando mais um tento.

Dinamite personificou o Vasco vencedor, face oposta à do tempo presente, de crise econômica e quatro rebaixamentos. Em dois deles, nas campanhas de 2008 e 2013, o ex-atleta ocupava a presidência do clube. Por ironia, os fracassos atribuíram maior peso biográfico ao personagem.

Na derrota, alcançou a identidade do clube em sua dimensão totalizante. Afinal, a vida vascaína não se dá no Maracanã, mas em São Januário. É uma vivência carioca particular, gauche, para ser sempre a diferença.

Ao forjar o capítulo mais feliz da história do Vasco, Dinamite atribuiu beleza à melancolia de cada dia. Feio é vencer, vencer, vencer —e esvaziar a vida de sentido.

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